domingo, 11 de janeiro de 2015

Por não conseguir ler, só pôde voltar para casa 25 anos depois


1982. Jaeyaena Beuraheng, uma muçulmana com 51 anos, nascida na Malásia, ingressa em um ônibus com o propósito de chegar à Narathiwat, uma província no sul da Tailândia. Com todos os passageiros devidamente instalados, a condução parte em direção ao seu destino. O que Jaeyeaena não sabe (e como poderia?) é que, ao desembarcar do coletivo, permanecerá longe de casa durante 25 anos, perdida e solitária, longe de todos os que a amam, de todos os rostos que ela conhece, sem ninguém para conversar, ninguém que a conseguisse entender. Uma estranha numa terra estranha. Durante cinco anos viverá como mendiga até ser levada para um abrigo para moradores de rua. Quando enfim conseguir encontrar o caminho de volta para casa, Jaeyaena terá 76 anos, aqueles que um dia vira pequeninos serão então adultos e terão suas próprias famílias e muitos de seus amigos já não estarão entre os vivos, tragados pela morte, que vem para todos a seu tempo. Tudo isso por haver embarcado no ônibus errado.

Jaeyaena hoje vive com sua família em Dusongyo, uma aldeia na província de Narathiwat.

O que a história de Jaeyaena tem a dizer sobre livros, sobre a leitura e sobre a importância de ambos? Por estranho que possa parecer, há bastante coisa, isso por que de modo geral, a vida não é muito diferente de ingressar em um coletivo.


Jaeyaena não ingressou no ônibus errado por ser iletrada, tratou-se apenas de um lapso que já assaltou grande número de pessoas, ainda que não com consequências tão extremas. Depois de desembarcar do ônibus no qual havia ingressado ao sair de casa, Jaeyaena, percebendo que estava no lugar errado, juntou o dinheiro que levara consigo e embarcou em outro ônibus, que acabou a levando para mais longe ainda. Por não saber ler no idioma do local em que estava, Jaeyaena não pôde voltar para casa e, se não fosse por uma feliz coincidência envolvendo a visita de alguns estudantes, jamais teria retornado à sua família.

O simples fato de não conseguir decodificar alguns poucos caracteres representa um grande problema para milhões de indivíduos ao redor do mundo, e mesmo aqueles que são capazes de identificar as palavras sofrem com a incapacidade de interpretar, de compreender. Só no Brasil, segundo dados recolhidos pelo IBOPE em 2005, 75% da população não possui domínio pleno da leitura, sendo 68% devido ao analfabetismo funcional e os outros 7% ao total analfabetismo.

Na vida, nem tudo poderá ser lido na sua "língua". A vida em sociedade, na nossa sociedade em especial, é uma cacofonia constante, interminável. Os corpos humanos estão o tempo inteiro em movimento, sendo levados daqui para lá pelas suas vontades, desejos e propósitos. Ha muitos idiomas emocionais aos quais nos expomos diariamente, muitas reações, muitas línguas sendo faladas ao mesmo tempo. É preciso estar equipado para não se afogar nesse mar de pessoas, anúncios, produtos, rotinas. É preciso aprender a ler os livros para então poder ler o mundo e a si mesmo.

O simples fato de não conseguir decodificar alguns poucos caracteres representa um grande problema para milhões de indivíduos ao redor do mundo, e mesmo aqueles que são capazes de identificar as palavras sofrem com a incapacidade de interpretar, de compreender. Só no Brasil, segundo dados recolhidos pelo IBOPE em 2005, 75% da população não possui domínio pleno da leitura, sendo 68% devido ao analfabetismo funcional e os outros 7% ao total analfabetismo.

OS ÔNIBUS ERRADOS DA VIDA

Há muitas pessoas ingressando nos “ônibus errados” da vida, algumas delas para nunca mais voltar.  Precisamos lutar para alterar essa realidade. É preciso pavimentar as rodovias poeirentas pelas quais esses pobres indivíduos têm caminhado e essa é uma tarefa coletiva. Comece pavimentando a estrada por onde você mesmo tem caminhado e, enquanto estiver seguindo seu percurso, evite as paradas desnecessárias. Acima de tudo, esteja bem atento ao seu destino, não desvie dele.




A literatura, os livros e a leitura estão entre os feitos mais grandiosos da raça humana e devem ser considerados um patrimônio da humanidade. Abrir um livro não é em nada diferente de caminhar pelas camadas da mente de pessoas que viram coisas que não vimos, que ouviram o que não ouvimos, que entendem o que ainda não chegamos a entender. Em muitos casos, essas pessoas viveram séculos ou mesmo milênios antes de nós. É preciso garantir que todos possam transitar por essas terras feitas de tinta, papel ou mesmo de pixels. Quando o homem é privado desses itens, ele inevitavelmente transitará por estradas perigosas, escuras, longe da verdadeira vida a ser vivida, longe de si mesmo, incapaz de formular a mínima reflexão. Sem a literatura somos ocos e vazios.

PARA AQUELES QUE LEEM: É PRECISO 'PARAR' E PULAR DA CONDUÇÃO


Aos leitores, gostaria de deixar um sincero alerta.

Numa sociedade barulhenta e em constante movimento como a nossa, 'parar' se tornou uma atitude obsoleta e, portanto, distintiva. O processo envolve não apenas cessar de andar ou de se mover (esses, na verdade, são os aspectos menos relevantes do processo), mas sair completamente da impulsão imposta pelo capitalismo, pelo pensamento consumista, pela mídia ou pelo avanço tecnológico. Essa impulsão impede as pessoas de entrarem em suas próprias mentes, terem suas próprias reflexões, de olharem ao redor com seus próprios olhos, pois mesmo quando estão visivelmente estancadas em seus lugares, continuam girando em um círculo vicioso no qual suas mentes estão em brusco, constante e selvagem movimento nessa perigosa montanha russa que chamamos de "estar conectado". Uma conexão de qualidade duvidosa, que transforma sua mente em um produto para consumir cada vez mais informações não complexa, em um produto que está sendo comprado e do qual você está sendo desapropriado. Sua mente é reflexo do que você faz com o seu tempo, tempo esse que também está sendo comprado e retirado de nós.

Seja um entusiasta dos livros e da leitura. Leia sempre que tiver a chance, seja em casa ou fora dela, no intervalo da aula ou do trabalho, na condução, nas filas da vida. Passe adiante essa cultura e esteja pronto para um futuro de livrarias lotadas e bibliotecas despontando de todas as partes. Esteja preparado para viver em um mundo melhor.

Por Henrique Magalhães

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