quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Resenha: O Zen e a Arte da Escrita, de Ray Bradbury




Livros que falam sobre os livros, sobre a leitura ou sobre a escrita são sempre como energéticos para mim. Eles potencializam e fundamentam o senso que tenho em relação a importância dos livros e da leitura nos diversos aspectos da minha vida e na sociedade humana como um todo. Sempre que leio tais livros, me ergo ao final da leitura como um leitor que bebeu da fonte da juventude com a certeza de que pode muito bem ler ainda outros milhares.

HUMANIDADE COMPARTILHADA

Há tanto que já foi dito sobre os livros e ainda há muito mais a ser dito, desvendado, descoberto, explanado, analisado, estudado, comparado, concluído, catalogado, reformulado, ensaiado, romanceado... Livros são tão individuais e únicos como o é cada ser humano, um mesmo organismo repleto de particularidades. Nenhum é igual ao outro, todos detentores de impressões digitais distintas. Carregar consigo um livro é como carregar parte de outro ser humano, uma parte compartilhada para ser compartilhada. Olhamos pelos olhos de outros, passeamos por sua mente, visitamos outros pontos de vistas, outras sensações, outras alegrias, outras dores, outros mundos. Quando lemos um livro, praticamos uma das modalidades da arte de ouvir, a arte de parar para escutar, para aprender, para entender, para conhecer. Quando escrevemos, deixamos correr pelo sangue, através de veias e artérias, até alcançar nossos dedos, aquilo que está oculto aos outros e, muitas vezes, oculto à nós mesmos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Análise: Um Cântico Para Leibowitz, de Walter M. Miller Jr.


Um livro com muitas passagens de notável poder.

Um oceano personificado em livro. Um mergulho em queda livre a um futuro caótico ao qual estamos fadados. Um retrato da natureza humana, com ênfase na  Teoria da História Cíclica, que determina que forças como a religião/espiritualismo, filosofia, moral, política e ciência, determinam as ações humanas, guiando-nos sempre a um ciclo de eventos.


+ Sobre a Obra

Um Cântico para Leibowitz é considerado um clássico da ficção científica e obra prima do autor. Aclamado pela crítica, atraindo respostas de jornais e revistas normalmente desatentos à ficção científica. Recebeu o Prêmio Hugo, como melhor romance de ficção científica de 1960. Atual e sempre presente no mercado literário, é considerado o melhor romance escrito sobre apocalipse nuclear.

Após ter sido quase aniquilada por um holocausto nuclear, a humanidade mergulha em desolação e obscurantismo. Os anos de loucura e violência que se seguiram ao Dilúvio de Fogo arrasaram o conhecimento acumulado por milênios. A ciência, causadora de todos os males, só encontrará abrigo na Ordem Albertina de São Leibowitz, cujos monges se dedicam a recolher e preservar os vestígios de uma cultura agora esquecida. Seiscentos anos depois da catástrofe, na aridez do deserto de Utah, o inusitado encontro de um jovem noviço com um velho peregrino guarda uma surpreendente descoberta, um elo frágil com o século 20. Cobrindo mil e oitocentos anos de história futura, "Um cântico para Leibowitz" narra a perturbadora epopeia de uma ordem religiosa para salvar o saber humano. 
+ Análise

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Análise: O Homem Pintado, de Peter V. Brett [SEM spoiler]




Obs.: No Brasil o livro tem o título O Protegido. — Sobre carroças atoladas e barris de vinho 

 [Sobre carroças atoladas e barris de vinho]

Peter V. Brett nos transmite a sensação de que escrever é um trabalho tão árduo quanto tentar desatolar uma carroça carregada com meia dúzia de barris cheios de vinho usando apenas a força dos braços. Ou você encontra uma maneira de tirar a carroça da lama (algo como tirar uma história de toda bagunça de ideias) ou você lamentará sua vida inteira pelo vinho deixado exposto ao sol ou à chuva, pelo prazer não compartilhado.

Penso que assim se sentem esses grandes escritores, como João Ubaldo Ribeiro (O Sorriso do Lagarto) , Stephen King (A Dança da Morte), George Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo), Tolkien (O Hobbit), Marion Zimmer Bradley (As Brumas de Avalon), Lauren Beukes (Iluminadas), Julio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas), entre tantos outros. Sentem-se como se, enfim, houvessem removido a carroça da lama e depositado o vinho em seu devido lugar. Eu, de minha parte tenho minhas safras inebriantes de Tolkien, Rowling, Shakespeare, e outros ainda por experimentar.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Resenha: Os Deixados para Trás, de Tom Perrotta




Depois de assistir ao piloto da série televisiva The Leftovers, baseada na obra escrita por Tom Perrota (Os deixados para trás), mais conhecido no Brasil pelo livro A Professora de Abstinência (Benvirá), decidi ler o livro antes de seguir vendo a série. O livro já estava em minha lista interminável de leituras e inesperadamente assumiu a linha de frente. O devorei em algumas sentadas.

O Arrebatamento está longe de ser o tema central em Os Deixados para Trás, pelo contrário, os efeitos devastadores de um fenômeno inexplicável que, repentina e subitamente, sobrevêm às sociedades humanas, assim como a reação de cada indivíduo a esse evento são o foco da narrativa de Tom Perrotta e é o que o autor tem de melhor para nos oferecer. É imprescindível que o leitor tenha isso em mente. O teor sobrenatural reside apenas no desaparecimento indiscriminado de indivíduos em um 14 de outubro qualquer, um evento que desencadeia nos Deixados para Trás uma série de sentimentos e emoções que os levam a atitudes que nos fazem pensar no quão despreparados estamos para lidar com situações inexplicáveis e repentina, seja em nossa vida pessoal ou em sociedade.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Análise: Os Magos, de Lev Grossman

Os Magos é uma história sobre a efemeridade da felicidade, sobre a qualidade fugaz da mesma e em muitos momentos sobre a negação da sua existência, passando a ser vista como um ideal não alcançável.


Uma homenagem à fantasia e um cântico gótico à falta de sentido do viver.

A sensação que tenho em relação à Os Magos é a de que ele foi escrito para um grupo seleto de pessoas ao redor do mundo. Um grupo composto por indivíduos que descobrem, a cada dia, a cada experiência, que a felicidade é uma impossibilidade quando se vive em um mundo de metal e concreto. Cinzento. Pessoas que encontram na leitura uma realidade paralela para compreender um mundo que já existiu e sobreviver ao que ele se tornou. 

Este livro se tornou um dos achados mais importantes do início de minha vida adulta. Desde o início de 2012, quando o encontrei solitário em uma prateleira na livraria, o li por três vezes e, só agora, após lê-lo pela terceira vez, me senti motivado a falar sobre ele.

*Algumas notas

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Análise: A arte de ler ou como resistir à adversidade, de Michèle Petit

"Quando leio, ponho o dedo na ferida e no luto como se toca com mãos nuas a corrente elétrica, entretanto, não morro. Não chego a captar como se opera esse milagre."


Recentemente me propus a ler alguns livros sobre livros, que possuam como tema principal a leitura, os leitores, a literatura, a escrita e/ou os livros. A arte de ler ou como resistir à adversidade foi a segunda leitura concluída desse meu projeto e o primeiro que irei esboçar em análise aqui. Ele veio para fazer exatamente o que espero desse projeto: potencializar meu amor pelos livros e pela leitura e alimentar meu cabedal de conhecimentos nessa área, me dando material mais que suficiente para entender a abrangência dessa poderosa atividade que é a leitura e desfrutar o máximo de minhas leituras.

Os relatos contidos nessa obra são emocionantes e chocantes, tendo o poder primordial de aproximar as pessoas não apenas da leitura, mas uma das outras. As abordagens feitas pela autora me lançaram de cabeça em realidades caóticas vivenciadas por pessoas marginalizadas e traumatizadas pela adversidade, e que encontraram na leitura um sopro de vida.

Sobre a Obra

"Fazemos uso dos livros da mesma forma que um caracol faz uso do rastro que deixa quando vaga, para não danificar o corpo, para não inutilizar a mente."

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ler te Torna Superior aos Outros?


Para responder ao questionamento título do post, vou recorrer à uma comparação bastante apropriada. Considere o seguinte:

O indivíduo que pratica exercícios físicos dentro das medidas saudáveis (sem excessos), com regularidade, está em uma posição potencialmente vantajosa em relação ao indivíduo que não prática exercícios ou que pratica sem se preocupar em conferir suas limitações por meio, por exemplo, do auxílio de um profissional. Essa vantagem reside nos benefícios que seguem a prática de exercícios, como resistência física, potencialização do sistema imunológico, redução dos riscos de doenças cardíacas, maior disposição para realizar atividades do dia-a-dia, dentre tantos outros benefícios. Já a desvantagem do indivíduo que não pratica exercícios ou que o faz de forma indevida, reside nos inversos dos benefícios apresentados, como alto risco de doenças cardíacas, maior tendência a obesidade, fragilidade imunológica, dentre uma série de outros fatores.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Análise: Red Ridding – 1974 (Livro I), de David Peace [SEM SPOILERS]


1974 Red Ridding  é um retrato hediondo e hiper-realista do que há de pior na humanidade. É um choque de realidade tão potente e devastador, que me leva a deixar a seguinte nota: Leia apenas se estiver preparado(a) para percorrer uma das vertentes do lado mais perverso, ambicioso e depravado dos seres humanos. Bem escrito, original, complexo, personagens bem estruturados, marcante, frenético, aterrador, tenso de um modo crescente. É um livro que não vai deixar você sair da mesma forma que estava quando entrou. Está entre os melhores livros que li esse ano.

*Sinopse ao fim do post.

Análise

Bem Escrito: Parte da narrativa é feita em tempo real (gerúndio), acompanhamos os personagens no momento em que suas ações ou pensamentos estão ocorrendo. Outra parte ocorre no pretérito perfeito. David Peace brinca com as palavras sem fazer uso de vocabulário rebuscado. Neste livro, sua escrita fluida é bastante influenciada pela personalidade do protagonista, afinal, estamos lendo as perspectivas de Dunfford, um repórter adulto, com seus próprios problemas pessoais e a ambição de ser reconhecido nacionalmente e que se embrenha em um caso que se mostra ser muito mais abrangente e abjeto do que aparenta. O que começa com o desaparecimento de uma garota de 10 anos se transforma num inferno cada vez mais quente, cada vez mais aterrador.

sábado, 10 de maio de 2014

Anáise: O Substituto, de Brenna Yovanoff

Pode parecer ridículo, mas agora que concluí a leitura de O Substituto, senti um pouco de pesar  por meu 'eu' adolescente não ter tido a oportunidade de ler esse livro. Ele iria adorar mais intensamente do que eu essa fantasia urbana.

Sobre a Obra

Há 16 anos Mackie foi trocado por um bebê humano, deixado para viver na cidade de Genty, com a família Doyle, que faz todo o possível para não atraírem atenção indesejada para a peculiar criança lhes foi deixada.

Mackie agora é um adolescente que se esforça para disfarçar suas singularidades, como a repulsa patológica ao ferro, sangue e lugares sagrados. Ele não é a primeira e nem a última criança trocada na cidade de Gentry, onde a cada sete anos um sacrifício de sangue é realizado na presença das criaturas que vivem nos túneis da cidade, onde há profundas poças de água negra e criaturas que definitivamente não são humanas.

Há muitos segredos na cidade, todos tem sua cota de coisas escondidas. Mas, segredos não ficam ocultos para sempre e alguns são tão potentes quanto furações, tirando tudo do lugar, removendo todos do seu aqui e agora.

Análise

+ Um resumo técnico: prós e contras

Brenna Yovanoff escreve livros de ficção especulativa e destinados de  à jovens-adultos. Esse foi o meu primeiro contato com a autora e, sem dúvida, vou ler outros de seus trabalhos.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Análise: Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein

Aqueles que morreram na década de 60 e conheceram esta obra, passaram bem perto de perder um fenômeno. Um Estranho Numa Terra Estranha é um dos mais importantes livros de ficção científica e fantasia que já tive o prazer de ler. Um livro para jamais esquecer.
*Além de ser um daqueles que te impulsionam a fazer dezenas de dezenas de marcações!

Em 2012 o livro foi nomeado como um dos 88 livros que moldaram a América.

Recebeu o prêmio Hugo Award de Melhor Novela do ano em que foi publicado.

Promovido em diversas edições como "o mais famoso romance de ficção científica".

O livro, que levou mais de uma década para ser concluído, é considerado a obra prima do autor que, por sua vez, foi considerado um dos autores de ficção científica mais influentes de sua época e um dos mais vendidos. Ele teve quatro de seus romances premiados com o Hugo, um número que jamais foi igualado!

Sobre a Obra

Um Estranho Numa Terra Estranha conta a história de Valentine Michael Smith, um humano que vem à Terra no início da idade adulta após ter nascido no planeta Marte e haver sido criado pelos habitantes do planeta, os marcianos. O romance explora sua interação com  e eventual transformação da  cultura-terrestre

Um Estranho Numa Terra Estranha e sua aplicação na vida real

+ Sobre a importância de "vivermos em Marte"

Valentine Michael Smith nasceu e viveu em Marte até o início de sua fase adulta. Durante sua estadia no planeta vermelho, foi criado, educado e tratado como um marciano. Seus pensamentos e percepções estavam inteiramente baseados nos padrões marcianos.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Análise: O Pacto, de Joe Hill

Nessas horas, ser um diabo seria a melhor opção. Não importa o que você faça, as pessoas sabem que faz parte da sua natureza e todas estão suscetíveis ao erro.

SEM SPOILERS

Sobre a Obra

No original Horns (Chifres), O Pacto (2010) é o segundo romance escrito por Joe Hill e seu terceiro livro. O livro recebeu uma quantidade invejável de prêmios e e boas críticas. A história une terror, fantasia, drama e literatura policial. O livro nos  fala de Ignatius, que utiliza a influência que seus dois chifres recém adquiridos exercem sobre as pessoas para solucionar um crime que destruiu a sua vida e culminou na morte de sua namorada.

Uma adaptação cinematográfica estava prevista para o ano passado (2013), no entanto algumas complicações envolvendo os recursos para a produção de efeitos especiais impossibilitou a conclusão do trabalho e até o momento não possui data prevista. Daniel Radcliffe (mais conhecido por interpretar o personagem Harry Potter) possui o papel principal.

ANÁLISE

+ TRAMA

Para quem pretende ler ou está considerando a possibilidade de ler O Pacto, acredito que esses pontos que irei abordar sobre a trama sejam úteis para esclarecer ou ajudar na decisão.

Em parte, O Pacto segue a estrutura de um bildungsroman (ou romance de formação), por isso teremos uma abordagem dos personagens centrais que irá expor o desenvolvimento dos mesmos em algumas fases da vida, como infância, adolescência e vida adulta, abordando o desenvolvimento estético, psicológico, político, profissional, entre outros. No livro, isso não ocorre de forma linear. Somos apresentados à personagens já adultos e, durante a narrativa, tomamos conhecimentos de eventos passados, que possuem ligação com os eventos posteriores. 
Algumas pessoas podem se sentir incomodadas com a forma como o autor resolveu distribuir essas abordagens e sobre isso falarei mais adiante.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Análise:Iluminadas, de Lauren Beukes

Se eu acreditasse em demônios, Iluminadas estaria entre os livros mais satânicos que li em minha vida, e não foram poucos. Se eu acreditasse no diabo, Lauren Beukes seria seu sobrenome.


SEM SPOLERS

Acredito que se queremos nos referir a algo irreal, podemos recorrer a diversos conceitos, dentre eles, o de "perfeição". Perfeição é uma invenção inalcançável quando estamos falando da vida real, do mundo real. No entanto, Lauren Beukes chegou perigosamente perto do que é pleno.

Enquanto escrevo esta resenha, preciso dominar o impulso de impregnar essa análise de adjetivos. Um pouco constrangido, confesso que esse livro me fez puxar os cabelos meia dúzia de vezes e estagnar a leitura o dobro de vezes, receoso de ler o que viria em seguida ou por estar estupefato com o que essa mulher criou: um livro, acima de tudo, inteligente, com uma complexidade diabólica e psicologicamente destrutivo, perturbador. Uma das melhores e mais inteligentes leituras da minha vida. Mereceu o prêmio de melhor livro do ano em seu gênero, recebi em 2013.

A imagem abaixo revela o trabalho, a dedicação e a mente por trás de The Shining Girls (título original) que, dentre outros aspectos, é um livro adulto, repleto de questões da vida adulta, da vida real, nuas e cruas.






 Uma Importante Ressalva

Alguns leitores vão encontrar dificuldades em situar-se na história, especificamente com relação ao elemento fantástico que permeia toda a história: os saltos no tempo. Eu desejo, sincera honestidade, que você não seja aquele gênero de leitor que desiste diante do primeiro obstáculo. Que transformam o "eu não estou conseguindo entender isso" em "que trapalhada é essa?". Esteja disposto a vivenciar uma experiência em literatura de fantasia diferente do status quo. Dê um passo mais adiante com a sua mente e seja bem vindo ao mundo dos livros que são como os sete diabos. E, pelo amor de Tolkien, voltem para me dizer se você também foram impulsionados a quase arrancar os cabelos!

Sobre a Obra

Não gosto de incluir sinopses em minhas resenhas. Ultimamente as resenhas tem transformados bons livros em chavões ou 'lugares-comuns' que ressaltam aspectos que não são relevantes e retiram a originalidade presente na obra. Assim, na maioria dos casos, faço minha própria adaptação e esse é um deles.

1931. Década que enfrentou a crise mundial que ficou conhecida como Grande Depressão.

Harper, um vagabundo doentio, tem uma chave que abre as portas de um casarão abandonado. A 'Casa' que o leva à outras épocas, outros tempos. Ele ouve a Casa, ela o chama. Harper tem um missão: assassinar brutalmente todas as garotas iluminadas. Sua missão e seu prazer. Ele é bom no que faz. As coisas, no entanto, começam a desandar quando, ao avançar para o ano 1989, Kirby, uma das garotas que ele deveria matar, sobrevive e começa a caçá-lo.

Aspectos da Obra a Serem Considerados

+ TRAMA

"Só existe uma certa quantidade de enredos no mundo. É como eles são desenvolvidos que os torna interessantes". - Lauren Beukes, lluminadas

Interessante não é a melhor palavra para transmitir a excelência que essa mulher conseguiu atribuir à sua história, pois sua trama não apenas 'prende' a atenção, como também a 'subjuga', fere, lacera. Quando a Casa entra em cena, sua mente fica presa dentro dela, sedenta de curiosidade,de tensão. Sair da Casa, significa presenciar a morte de garotas pelas mãos de um homem detestável e clinicamente cruel. Tudo se intensifica quando, antes de vê-las morrer, você as conhece, caminha por sua mente, segue seus passos, sabe de seus sonhos, planos, segredos e anseios. É um convite para toda sorte de emoções e sentimentos e o resultado dessa mistura é uma tortura psicológica que beira a histeria.

Lauren Beukes coloca diante de nós pessoas reais, garotas inegavelmente reais, que estão no rastro de um serial killer impiedoso, que sente prazer no ato de matar, que se excita em ferir. Garotas que não fazem ideia de que um andarilho do tempo está caminhando em suas direções.

Os capítulos (e é aqui que reside grande parte da complexidade da trama) são distribuídos sob o ponto vista de alguns personagens, na maioria dos casos envolvendo Harper ou uma de suas vítimas, dentre estas, a mais abordada é, naturalmente, Kirby. Há diversas tramas secundárias, repletas de ligações entre si e que giram em torno do círculo de assassinatos, que precisa ser fechado. Esses capítulos se passam em diversos momentos do tempo entre 1931 e 1993, repleto de referências históricas e culturais que atribuem uma grande carga de riqueza ao trabalho da Lauren.

+ ESCRITA

Um elemento que confere a consistência creep à história são seus diálogos mordazes, inteligentes e mórbidos. A escrita de Lauren evoca realidade, é direta, cheia de analogias que esbanjam sagacidade, ironia. Laurem também está ocupada em nos inserir no contexto de cada um de seus personagens, afinal de contas, uma negra que viveu na década de 40 não lida com a mesma realidade que se aplica aos anos 90.

+ ASPECTOS QUE CONSIDERO IMPORTANTES:

--O Sobrenatural--

Iluminadas é um thriller policial com escancarado toque sobrenatural, esse toque o transforma, também, em um thriller psicológico.

A Casa é o que nos possibilita transitar entre a vida de pessoas que viveram em diferentes momentos da nossa história. Sua influencia sobre Harper e os eventos que giram em torno dela nos faz sentir a influência do mal, sua mão invisível brincando com vidas dentro do tempo, mudando suas vidas, desenhando suas mortes. O elemento fantástico que permite caminhar entre as épocas, seguindo os passos de um homem que não possui escrúpulos, um homem "do mal".

A ideia de um lugar, aparentemente inofensivo, uma casa antiga e caindo aos pedaços, que exerce influencias malignas sobre um indivíduo e que o permite caminhar livremente entre as épocas quando bem entender é perturbadora. O homem que assassinou uma garota na época da Grande Depressão fez também uma vítima nas vésperas da virada do século, mais de meio século depois. Um psicopata caminhando pelo tempo nas mãos de Lauren é a última pessoa com quem você gostaria de esbarrar um dia.

--Policial--

O peso e a importância do gênero policial, investigativo está em muitas parte do livro. Temos assassinatos que, apesar de serem cometidos em diferentes momentos do tempo, possuem alguma ligação. Apesar da intervenção da polícia nesses crimes, como não conseguem solucioná-los, ou encontram a quem culpar (geralmente gangues) ou arquivam o caso. Logo, teremos personagens que, por estarem envolvidos ou apenas interessados e intrigados com os casos, irão dar uma de detetives. Esse aspecto é bastante animador para mim, pois faz referência ao desejo por justiça e a esperança que precede seu cumprimento.

+ Iluminadas e Sua Aplicação à Vida Real

À parte o seu poder devastador pela tensão e crueza, Iluminadas é um livro sobre a natureza humana. Sobre como somos pequenos e estamos sujeitos à mudanças repentinas e inesperadas. Sobre como a perda pode significar uma vida inteira de solidão, de dor ou de superação, resiliência, aceitação e resignação. Sobre os clichês da humanidade, suas guerras, seus dilemas, seus vícios, seus amores e terrores. Sobre continuar vivendo mesmo quando a morte soprou seu hálito de sangue e excremento em sua face.

É, também, um retrato da mente cruel, sádica, selvagem que nos recorda do quanto podemos ser perversos. Acredito que todos temos um Harper dentro de nós e que, por vezes, ele se manifesta por meio de palavras, de comentários pejorativos na rede, do desejo insano de agredir alguém, de ver sangue verter. Nossa mente é nossa casa. Precisamos mantê-la sob nosso comando.

Por fim...

Gostaria de convencer o mundo a ler esse livro, mas é querer demais. No entanto, espero que tenha feito um ótimo trabalho em convencer você. Penso que você merece ler essa história, todos merecem ler essa história.

Por Henrique Magalhães

sábado, 26 de abril de 2014

Análise: Em Busca de Wondla, de Tony DiTerlizzi

Se uma criança me disser que leu esse livro, terei que agendar um chá para conversar com ela

“Se você quiser que seus filhos sejam inteligentes, LEIA CONTOS DE FADAS. Se quiser que sejam mais inteligentes, LEIA MAIS CONTOS DE FADAS."—Albert Einstein

Sobre a Obra

Eva Nove é uma garota de 12 anos que vive em um "Santuário" subterrâneo, uma construção a base de tecnologias avançadas, revelando o quanto a civilização humana conseguiu avançar em suas criações e descobertas. Durante 12 anos, Eva jamais subiu a superfície e tudo o que ela conhece a respeito do mundo lá fora é fruto de simulações de realidade avançada e hologramas, além dos ensinamentos que recebe de sua mãe robô, Mater, uma robô programada para educar Eva e cuidar dela como se fosse sua própria filha.

Eva está recebendo treinamentos para sobreviver na superfície quando estiver preparada. Esse é o seu maior sonho: ir à superfície e encontrar, pela primeira vez, um outro ser humano.
Um evento inesperado força Eva a fugir de seu lar, sozinha, e sobreviver em um mundo muito diferente daquele que lhe foi mostrado.

Portando um de seus bens mais preciosos, uma imagem antiga em um papel que traz no verso a palavra WondLa, Eva vai em busca de respostas e acaba encontrado uma infinidade de perguntas, cada vez mais difíceis de responder. Ao mesmo tempo que está sendo caçada sem saber o motivo, Eva encontra terrores e maravilhas que vai fazer o leitor enxergar o mundo real sob um prisma mais "fantástico".

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Análise: Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick









  "A palavra é o dejeto do pensamento. Cintila. Cada livro é sangue, é pus, é excremento. É coração retalhado, é nervos fragmentados, é choque elétrico, é sangue coagulado escorrendo como lava fervendo pela montanha abaixo."- C. Lispector

Antes de tudo, duas notas essenciais:

I. É um daqueles livros vivos que, conforme é lido, vai selecionando um apanhado de emoções diretamente da mente do leitor. Feito isso, o livro, com mãos como as de ninguém, guia o leitor à descobertas que colocam diante dele toda sorte de crenças e ideias que ele possui e o leva a questionar a própria essência de sua existência e seu código moral.

II. É um daqueles autores que não podem ser equiparados a outros, que não pode mais ser encontrado e ao qual só podemos recorrer por meio do que deixou quando se foi, que nos leva para o núcleo do ser e do existir.

Sobre a Obra 

Durante o período que ficou conhecido como Guerra Mundial Terminus, uma investida nuclear traz à tona um cenário pós-apocalíptico no qual grande parte da população de seres vivos foram mortalmente afetados pela radiação, restando muito poucos.

Para proteger a raça humana da extinção, a ONU incentiva a emigração para colônias fora do planeta Terra, especificamente para Marte. Para encorajar as pessoas a emigrarem, foram criados os androides-serviçais que estão à disposição dos que decidem emigrar. Com o tempo, por serem feitos de material biológico e serem periodicamente otimizados, os "andros" tornarem-se visivelmente quase indistinguíveis do ser humano e com uma memória assustadoramente "humana".

A maior parte das pessoas que decidiram viver na Terra, mesmo com a constante poeira radioativa que "cai do céu", vivem em cidades desordenadas e decadentes, sempre passíveis de adoecerem pela radiação. Os animais são escassos e, por ser uma atitude socialmente vista como incentivo à empatia e agregadora de status, muitos adquirem animais a altos preços. Aqueles que não podem dispor desse luxo, optam pelos animais sintéticos, bastante verossímeis e consideravelmente baratos, podendo assim manterem um status de fachada.

Na trama principal, temos Rick Deckard, um caçador de androides por recompensa, que precisa capturar 6 androides do modelo Nexus-6, última geração, que como muitos androides fugitivos, estão se passando por seres humanos no planeta Terra. O que deveria ser uma caçada rotineira, se transforma em uma experiência que coloca sua vida em risco e o leva a confrontar-se com questionamentos que ele sequer havia cogitado fazer. Em uma trama secundária, temos John Isidore, um homem considerado "especial" por possuir uma inteligência abaixo do considerado normal, sub-desenvolvida, mas que conseguiu um emprego em uma oficina para concertos de animais sintéticos e leva uma vida solitária, até que um novo e intrigante morador torna-se seu único vizinho.

domingo, 20 de abril de 2014

Análise: The Adoration of Jenna Fox (A Adoração de Jenna Fox), de Mary E. Pearson



Um exemplo de que um Y.A. pode ser profundo, bem escrito e marcante.

Faz muito tempo que li The Adoration of Jenna Fox, muitos anos. Infelizmente, o livro não foi publicado no Brasil (ainda?), mas acredito que ainda seja possível encontrar uma versão "ilícita" na internet que foi traduzida por algum grupo de tradução, do contrário, comece a pensar em aperfeiçoar seu inglês.

Eu tenho uma espécie de  "reação sinestésica" relacionada a livros que me marcaram. Às vezes, quando termino de ler um livro que exerceu bastante influência sobre minhas emoções, forma-se a imagem viva de um ambiente, no caso de Jenna Fox, trata-se de uma manhã ensolarada de céu azul e grama verde sob os pés com árvores de folhas amareladas e com neve em processo de derretimento. É como seu eu pudesse sentir o calor mandando embora o frio e estabelecendo o clima perfeito!

Sobre a Obra

Análise: Encarcerados, Volume I da série Furnace, de Alexander G. Smith



Se fosse melhor escrito e possuísse uma melhor trama, Encarcerados renderia uma ótima história em um livro único com cerca de 400 ou 500 páginas. Ao invés disso temos uma série composta por 5 livros (!) e uma história que parece haver sido escrita por um adolescente que tem potencial para tornar-se um talentoso escritor, mas que precisa seguir lendo, aprendendo e desfazendo-se de maus hábitos e vícios de escrita e aperfeiçoar seu próprio estilo. Como exemplo temos o volume um de As Crônicas do Matador do Rei, do Patrick Rothfuss, que levou quase uma década para ser escrito. Algumas pessoas precisam de tempo para produzir algo de grande valor enquanto outros o fazem rapidamente, é preciso uma auto-avaliação para saber qual tipo de indivíduo você é, afinal todos temos nossas particularidades e precisamos trabalhar em cima delas.

Eu posso dizer que gostaria do que Furnace poderia ter sido, algo grande, algo realmente bom. Acredito que por ser voltado para o público adolescente ou Jovem adulto, temos uma história sem profundidade nas falas, nos personagens, no cenário, nos momentos de tensão (que são muitos, porém parcamente tensos), o que é uma pena, pois subestima o potencial do jovem leitor. Em lugar de cinco livros não muito bem escritos, poderíamos ter uma história memorável, emocionante, repleta de tensão, mistério e profundidade, um épico de verdade. Furnace tinha tudo para figurar entre os melhores thrillers psicológicos da atualidade.

sábado, 19 de abril de 2014

Análise: O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers



"Depois de uma leitura como O Rei de Amarelo, as únicas alternativas eram “o cano de uma arma ou o pé da cruz”.

Esperei, com ansiedade potencialmente irrequieta, que O Rei de Amarelo fosse lançado por essas terras, com uma edição digna e uma tradução, na medida do possível, fiel ao original. Por isso, quando o tive em mãos, nem pensei duas vezes antes de pausar a releitura que estava a fazer de Game of Thrones. Como que respondendo a um desejo já antigo, a Editora Intrínseca nos agracia com a publicação de um clássico bem traduzido, com uma bela capa, esbanjando originalidade. O revisor, Carlos Orsi, escritor e jornalista a respeito de quem, até então, não havia lido nada a respeito, preenche de notas cada conto da coletânea, lançando luz sobre aspectos que acabariam por passar desapercebidos, até mesmo para o leitor mais experiente.

Curiosamente, há outras editoras que pretendem publicar suas próprias edições do livro O Rei de Amarelo. Acredito que isso deve-se ao grande sucesso da série True Dectetive (uma série complexa a qual recomendo a todos os que estão em busca de trabalhos bem feitos), que estreou em 12 de janeiro e é exibida pela HBO e que recebeu boas críticas, especialmente pelo enredo, consistência dos personagens e pelas atuação dos atores. Um dos personagens da trama denomina-se O Rei Amarelo, uma clara alusão à obra de Chambers, que inspirou e inspira grandes nomes da literatura, como a minha muito amada Marion Zimmer Bradley, mais conhecida pela quadrilogia As Brumas de Avalon e a extensa e bem sucedida série Darkover, o adorado e reconhecido H.P. Lovecraft, mais conhecido pela terrível e assustadora mitologia do Cthulhu, E. Raymond Chandler, que escreveu um conto policial intitulado “O rei de amarelo”, os incríveis e respeitados Terry Pratchett e Neil Gaiman, que juntos escreveram Belas Maldições, Stephen King, reconhecido como o prolífico e atual rei da Literatura de Horror, entre outros.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Análise: Silo,de Hugh Howey




Depois de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (Orwell) e Admirável Mundo Novo (Huxley), Silo vem para nos inserir em uma Ficção Científica com doses equilibradas de distopia e qualidade equiparável  a ambos.

Ao concluir a leitura de Silo, senti o impulso de ficar um bom tempo deitado, dias, semanas, pensando em como ler esse livro fez toda a diferença em minha vida, em como foi uma leitura memorável, necessária, singular, instigante, instrutiva e inovadora. A escrita me deixou extasiado. O que para alguns será “descrição demais”, para mim foi uma espécie de essência vital, como se por suas palavras e descrições, Hugh evocasse algo vivo, transformando a experiência da leitura em um ser cuja expectativa de vida está destinada ao fim apenas quando alcançarmos a última palavra do último capítulo do livro. Acima de tudo, a sensação de estar lendo um clássico escrito em meu tempo foi a que mais mexeu comigo. É como ter certeza de que, no futuro, distante ou próximo, essa obra estará entre os valorosos cânones da literatura.

Um Mundo Real

Silo é um livro adulto, escrito para mentalidades e pessoas maduras. Então abandone qualquer esperança ou anseio de encontrar qualquer semelhança com os livros recentemente publicados destinados à Jovens Adultos (YA). Existem “silos e mais silos” de distância entre eles, em termos de tramas, escrita, personagens entre outros. Então, nada de adolescentes e seus triângulos amorosos, suas incertezas, histerias, imaturidade e suas trilogias que mais bem fariam se fossem resumidas em um único livro, retirando-se todo o excesso de incertezas amorosas, intrigas infantis e problemas adolescentes. Em Silo temos adultos bem construídos, que já passaram por essa fase de imaturidade, que em minha opinião, contribui para a verossimilhança da obra, afinal, não acho que adolescentes conseguiriam salvar uma nação de governos corruptos ou de uma hecatombe, especialmente os adolescentes atuais, e nem vou citar meus motivos, não é mero preconceito, mas tenho minhas razões. Silo trás uma linguagem e personagens adultos e um cenários que são fruto de uma mente e propósitos maduros. Então, se você pretende ler Silo, sinta-se bem vindo a um mundo real, com problemas, intrigas, personagens e cenários tão reais quanto eu e você.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Análise: As Mentiras de Locke Lamora, de Scott Lynch (ÉPICO)




Mentir nunca foi tão épico.

Esse livro me fez chegar à seguinte conclusão: Se o Martin morrer, temos um substituto mais que à altura para seguir publicando Livros de fantasia com “L's” maiúsculos. E, fazendo minhas as palavras do Patrick Rothfuss, um dos melhores livros que li em minha vida.

Sempre que um autor de fantasia deixar sua originalidade fluir, teremos algo que merece nossa atenção. Mas, quando um autor, além de original, tem domínio sobre as palavras e uma mente dotada de toda sorte de inteligências, teremos algo como As Mentiras de Locke Lamora (cara, que livro bom!). Agora, vamos aos porquês...

segunda-feira, 24 de março de 2014

Análise: J.R.R. TOLKIEN, O Senhor da Fantasia


Um livro inteiro contendo relatos a respeito da vida do homem que, com sua mente e personalidade únicas e admiráveis, trouxe à existência toda uma mitologia com poder de cativar e confortar, de trazer significado, de nos transformar em observadores do que antes não podíamos ver. O homem que fundou a Terra-Média, ou melhor, o Hobbit que a fundou! Não me restam dúvidas de que Tolkien seja "um hobbit-Viciante!"

sexta-feira, 14 de março de 2014

Por Que Você Lê Fantasia?













Precisamos de livros que nos desesperem e nos afoguem. Livros que sejam como dedos a acariciar malevolamente nosso coração. Como garras que o penetre.

A magia não existe no mundo real. As nossas palavras não podem subjugar as leis da física e dominá-la. Não podemos mover um único grão de areia com a força do pensamento. Estamos sujeitos à leis que não podem ser desobedecidas.

A tecnologia moderna é o mais perto que chegamos do poder. Veículos velozes que avançam por terra, céu e mar, pelo espaço fora do globo.

Mas, ainda assim, não há magia, a natureza não é consciente e nem movida por uma essência ou força que a define e a torna acessível à linguagem humana. Rochas são rochas e nada mais. Não há poder na madeira antiga nem o velho homem.

Mas...

... ainda assim, ainda vivendo em um mundo com completa ausência de magia, o ser humano, por meio da imaginação (uma vertente da razão) a trouxe à existência. Personificada em foma de deuses criadores e exterminadores, figuras malévolas e demoníacas, seres luminosos e angelicais, mundos além deste, leis além destas, forças maiores, melhores, mais nobres, mais emocionantes.

A literatura fantástica é a imaginação sem limites dos homens em forma de tinta e papel, em forma de palavras, códigos e construções orais que deixam de ser apenas textos e passam a ser o poder e a magia personificados, compreensíveis a acessíveis. No momento em que lemos podemos ser o que quisermos, fazer o que quisermos e estar onde quisermos. Na guerra ou na paz, no tédio ou na animação, quando o mundo já não nos agrada e não é atraente, quando o brilho do sol e da lua já estão embaçados pela poluição, quando há sempre o barulho de mil vozes, temos sempre a chance de nos afogar.

É por isso que eu leio fantasia, para me afogar em um lago onde respirar não é prerrogativa dos peixes.
E você? Por que você lê Fantasia?

quarta-feira, 12 de março de 2014

Análise: Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley


Entre os livros mais proibidos ou censurados em alguns países, está Admirável Mundo Novo.

Para os que viveram nos anos que se seguiram ao de 1932, Admirável Mundo Novo foi, quase que literalmente, uma janela pela qual eles puderam vislumbrar aspectos da sociedade em que eu e você vivemos. Uma viagem ao futuro, nosso presente. Uma profecia assustadoramente concretizada.

- Quinto livro na lista dos 100 melhores livros da língua inglesa do século 20, pela Modern Library.


- Número 53 no top "100 maiores romances de todos os tempos", pelo The Observer.

Como até mesmo o título do livro tem história para contar, melhor começar a abordagem por ele. O título do livro retirado de uma frase pronunciada pela personagem Miranda, no grandioso A Tempestade, de Shakespeare. Logo após conhecer pessoalmente os homens "civilizados", Miranda expressou seu entusiasmo com a frase: "Oh, admirável mundo novo, que encerra criaturas tais". Note que a frase também pode expressar medo, terror, assombro.



Sobre a Obra

Londres, 632 AF (antes de Ford) - 2540 em nosso calendário.

terça-feira, 11 de março de 2014

Análise: A Escolha dos Três, de Stephen King




Esse livro é encarnação da Fantasia em uma de suas forma mais admiráveis!

Faz algum tempo que li A Escolha dos Três, volume II da série A Torre Negra, do Stephen King. O livro se tornou uma das melhores experiências de leitura e de Fantasia que vivenciei em minha jornada cimo leitor. O cheiro do mar, a adrenalina que escorre de cada página, a originalidade da escrita, a trama viciante, os personagens incomparáveis, todos eles continuam vivos em minha mente, caminhando pela região reservada às melhores lembranças.

Como costumo dizer, A Escolha dos Três é mais que um livro ou uma história, é PODER (!), em uma de suas manifestações mais aterradoras!

Quintessência

Livros tem o poder de tirar você do seu aqui e agora e catapultá-lo para o passado, o presente desconhecido ou para o futuro insondável, mas...

sábado, 8 de março de 2014

Análise: 1984, de George Oewell


É muito provável que você não saiba, mas você está sendo vítima de uma espécie de estupro mental desde o momento em que nasceu.

1984, lançado na metade do século passado, em 1949, se tornou um marco na ficção literária, foi adaptado aos cinemas e teve muitas de suas predições concretizadas no século em que vivemos. É um livro perturbador em muitos aspectos.

Se alguém lhe pedir que demonstre que a literatura de entretenimento (de modo geral, a ficção) é grandiosa, importante e essencial, como também útil e singular, apenas diga: 1984!

Quando nas mãos de um bom e dedicado escritor, uma ideia vai encontrar na ficção um solo fértil onde poderá crescer e dar multidões de frutos.


- Uma das mais famosas representações literárias de uma sociedade distópica;

- Uma das cem melhores obras de língua inglesa publicadas desde 1923;

- Banido e questionado em alguns países.

Análise: Marina, de Carlos Ruiz Zafón


Uma obra dedicada ao público juvenil que possui mensagens que gritam à nossa mente e nos deixam atordoados.

A literatura espanhola tem me surpreendido e esse livro só realça o apreço que. há algum tempo, tenho destinado a autores espanhóis, especialmente no quesito suspense e mistério sem perder o toque de sabedoria presente na literatura.

Marina é um daqueles livros que podem ser lidos em um início de tarde, enquanto a noite se aproxima. É uma história para ler, se emocionar e sentir saudades.

Sobre a Obra
* Todas as sinopses que encontrei desse livro demonstraram serem mega spoilers. Por isso fiz a minha versão.

Barcelona, final dos anos 80.

Oscar Drei, um jovem de 15 anos passa a maior parte dos seus dias em um internato e, nas horas que deveriam ser dedicadas à meditação fora de sala, ele escapa dos limites do local e explora as ruas de Barcelona, admirando as arquiteturas e deslumbrado com as histórias e aspecto dos casarões que podem ser encontrados por toda parte.

Em uma dessas fugas, após um incidente que dá início a uma série de consequências, ele conhece Marina, que além de sua melhor amiga, vem a tornar-se o seu maior segredo.

domingo, 2 de março de 2014

Análise: Jonathan Strange & Mr. Norrell, de Susanna Clarke


Como convencê-lo a ler um Épico da fantasia com quase mil páginas?



A primeira vez que tive contato com o livro Jonathan Strange & Mr. Norrell foi em uma de minhas andanças pelas livrarias da cidade e o que me chamou a atenção, além da capa (essa versão logo acima /\ ), foi a densidade do livro. Eu tenho um justificado e compreensível interesse por livros densos, com páginas e mais páginas, principalmente quando se trata de um livro de Fantasia ou Sci fi. Em toda minha vida de leituras, os densos nunca me decepcionaram. Para mim eles funcionam como uma viagem que dura mais tempo que o comum, que me permite horas e horas diante da janela, observando todo tipo de paisagem, toda sorte de pessoas, todas espécie de situações. Com deliciosas e saudosas 882 páginas, Jonathan Strange & Mr. Norrell é uma raridade digna de ser lida por sua originalidade, que está cada vez mais difícil de encontrar.

Você definitivamente NÃO vai poder comparar este livro com as obras de Tolkien ou C.S. Lewis em termos de enredo, de universo fantástico, de elementos fantásticos, pois não existe um paralelo. A Susane conseguiu criar seu universo complexo, criativo e original. Se existe alguma semelhança entre estas obras, ela reside apenas na qualidade da escrita e na originalidade e potência dessas obras.. Trata-se de um livro para devorar, favoritar, recordar.


Sobre a Grandeza da Literatura Fantástica - Uma Visão Pessoal


A fantasia é o alicerce da (minha) realidade. - L. L. Santos