[Sobre carroças atoladas e barris de vinho]
Peter V. Brett nos transmite a sensação de que escrever é um trabalho tão árduo quanto tentar desatolar uma carroça carregada com meia dúzia de barris cheios de vinho usando apenas a força dos braços. Ou você encontra uma maneira de tirar a carroça da lama (algo como tirar uma história de toda bagunça de ideias) ou você lamentará sua vida inteira pelo vinho deixado exposto ao sol ou à chuva, pelo prazer não compartilhado.
Penso que assim se sentem esses grandes escritores, como João Ubaldo Ribeiro (O Sorriso do Lagarto) , Stephen King (A Dança da Morte), George Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo), Tolkien (O Hobbit), Marion Zimmer Bradley (As Brumas de Avalon), Lauren Beukes (Iluminadas), Julio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas), entre tantos outros. Sentem-se como se, enfim, houvessem removido a carroça da lama e depositado o vinho em seu devido lugar. Eu, de minha parte tenho minhas safras inebriantes de Tolkien, Rowling, Shakespeare, e outros ainda por experimentar.
Essa sensação de estar carregando nas mãos um trabalho esmerado de uma vida inteira de dedicação (ainda que não o seja de toda uma vida, apenas pareça), contribui para enriquecer a experiência da leitura que, por si só, já é de grande valia. Ler uma história bem contada nos garante emoções tão profundas e marcantes quanto as emoções vividas por aqueles que ouviram do próprio Beethoven suas sinfonias, em primeira mão. E não é apenas pelo prazer das emoções, mas pelo poder que a leitura (especialmente de fantasia) tem de tocar as coisas antigas, ancestrais que existem em algum ponto obscuro (e maravilhoso) de nossas mentes.
E já que o Peter conseguiu desatolar a carroça, bebamos com fartura desse vinho e nos embriaguemos dessa boa safra!
— Entra em um mundo onde a noite pertence aos demônios —
Arlen, Leesha, Rojer. Através dos olhos desses três grandes personagens e seguindo-os pela infância até a vida adulta, Peter V. Brett nos lança em uma realidade onde o dia é venerado pelos homens e onde a noite é o pior de seus temores. Um mundo que (nas palavras do Stephen King) seguiu adiante. Uma imersão sobre o desejo, o medo, a coragem e os desígnios da vida. Sobre pessoas insignificantes assumindo todo o significado, pequenos tornando-se grandes. O Homem Pintado é uma história de fantasia que transborda de realidade, mas uma realidade que os nossos olhos nunca viram até então.
No primeiro livro do Ciclo dos Demônios (que antecede A Lança do Deserto, A Guerra Diurna e O Trono de Ossos - este último a ser lançado em março de 2015) somos introduzidos no vasto e assombroso universo criado pelo autor, um mundo que é atormentado por demônios (conhecidos como corelings\nuclitas, aqueles que habitam o Núcleo) que se erguem na noite para caçar, especialmente humanos. Os demônios são bestas elementares, dividindo-se em espécies e sub-espécies, como areia, rocha, água, ar, etc., cada um com diferentes capacidades e proporções de força. A única forma de se proteger contra os demônios é por meio das "guardas", complexas runas mágicas que podem ser escritas, pintadas ou esculpidas em pedra, madeira, metal, areia etc. Uma falha mínima nas guardas pode significar a morte. Devido aos constantes ataques demoníacos, a humanidade foi reduzida de um avançado estado de tecnologia para a idade das 'trevas'.
Peter V. Brett nos transmite a sensação de que escrever é um trabalho tão árduo quanto tentar desatolar uma carroça carregada com meia dúzia de barris cheios de vinho usando apenas a força dos braços. Ou você encontra uma maneira de tirar a carroça da lama (algo como tirar uma história de toda bagunça de ideias) ou você lamentará sua vida inteira pelo vinho deixado exposto ao sol ou à chuva, pelo prazer não compartilhado.
Penso que assim se sentem esses grandes escritores, como João Ubaldo Ribeiro (O Sorriso do Lagarto) , Stephen King (A Dança da Morte), George Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo), Tolkien (O Hobbit), Marion Zimmer Bradley (As Brumas de Avalon), Lauren Beukes (Iluminadas), Julio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas), entre tantos outros. Sentem-se como se, enfim, houvessem removido a carroça da lama e depositado o vinho em seu devido lugar. Eu, de minha parte tenho minhas safras inebriantes de Tolkien, Rowling, Shakespeare, e outros ainda por experimentar.
Essa sensação de estar carregando nas mãos um trabalho esmerado de uma vida inteira de dedicação (ainda que não o seja de toda uma vida, apenas pareça), contribui para enriquecer a experiência da leitura que, por si só, já é de grande valia. Ler uma história bem contada nos garante emoções tão profundas e marcantes quanto as emoções vividas por aqueles que ouviram do próprio Beethoven suas sinfonias, em primeira mão. E não é apenas pelo prazer das emoções, mas pelo poder que a leitura (especialmente de fantasia) tem de tocar as coisas antigas, ancestrais que existem em algum ponto obscuro (e maravilhoso) de nossas mentes.
E já que o Peter conseguiu desatolar a carroça, bebamos com fartura desse vinho e nos embriaguemos dessa boa safra!
— Entra em um mundo onde a noite pertence aos demônios —
Arlen, Leesha, Rojer. Através dos olhos desses três grandes personagens e seguindo-os pela infância até a vida adulta, Peter V. Brett nos lança em uma realidade onde o dia é venerado pelos homens e onde a noite é o pior de seus temores. Um mundo que (nas palavras do Stephen King) seguiu adiante. Uma imersão sobre o desejo, o medo, a coragem e os desígnios da vida. Sobre pessoas insignificantes assumindo todo o significado, pequenos tornando-se grandes. O Homem Pintado é uma história de fantasia que transborda de realidade, mas uma realidade que os nossos olhos nunca viram até então.
No primeiro livro do Ciclo dos Demônios (que antecede A Lança do Deserto, A Guerra Diurna e O Trono de Ossos - este último a ser lançado em março de 2015) somos introduzidos no vasto e assombroso universo criado pelo autor, um mundo que é atormentado por demônios (conhecidos como corelings\nuclitas, aqueles que habitam o Núcleo) que se erguem na noite para caçar, especialmente humanos. Os demônios são bestas elementares, dividindo-se em espécies e sub-espécies, como areia, rocha, água, ar, etc., cada um com diferentes capacidades e proporções de força. A única forma de se proteger contra os demônios é por meio das "guardas", complexas runas mágicas que podem ser escritas, pintadas ou esculpidas em pedra, madeira, metal, areia etc. Uma falha mínima nas guardas pode significar a morte. Devido aos constantes ataques demoníacos, a humanidade foi reduzida de um avançado estado de tecnologia para a idade das 'trevas'.
— Entretenimento que fala de coisas grandes e subindo —
A abordagem de temas atuais, como a posição da mulher numa sociedade que supervaloriza o homem, a influência da religião para o bem ou para o mal, o estado de ignorância e suas consequências, as divergências entre as culturas, as injustiças advindas das hierarquias sociais, os horrores cometidos em nome da fé cega e questões existenciais equilibram-se em meio à aventura, drama e ação, além de servirem como uma espécie de simulação para os eventos cotidianos, alterando significativamente o modo como enxergamos as pessoas e como compreendemos a nós e aos que nos cercam. A imparcialidade com a qual Brett aborda temas controversos por meio de seus personagens cheios de humanidade é um convite à reflexões inevitáveis por parte do leitor, que encontrará extrema dificuldade em posicionar-se contra ou a favor desse ou daquele personagem.
— Leitores assassinos: nossa vontade insana de matar —
Pode parecer inocente, mas essa vontade incontrolável que muitos leitores experimentam em relação a determinados personagens que saem por aí lançando sal nas feridas alheias; estuprando, matando e destruindo vidas, não é nem um pouco inocente: é puramente assassina (e, não adianta negar, deliciosa). Acredito que isso se deve a sensação de estar fazendo o que é certo, matando aquele personagem e poupando outros de suas ações (é como dar uma de Jeová vingador e destruir os bebês de Sodoma, futuros "pecadores").
Brett constrói seus personagens com um norte e com um sul. Em outras palavras, humanos, sem maniqueísmo, bons e maus ao mesmo tempo, realistas, (ainda que falhe nesse aspecto em alguns momentos). O ódio ou a raiva que você dedica à um personagem, podem se converter nos sentimentos contrários. Sob um ponto de vista, aquele personagem pode parecer detestável e abjeto, sob outro, alguém a quem você dedicaria seu apoio se pudesse. Portanto, tire seu dragão da chuva caso esteja predisposto a sair apontando adagas aos pescoços dos 'vilões' de Brett, eles podem arrancar-lhes doces beijos no capítulo seguinte.
— Acima de tudo, um livro sobre o medo —
O autor, ao escrever sua história, tinha em mente escrever algo que retratasse a forma como o sentimento 'medo' é divisor de águas na vida do ser humano. Lidar com o medo, seja qual for a sua natureza, é o tema central da história O Home Pintado. O medo está presente o tempo inteiro em um mundo dominado por demônios (e podemos sim usar a liberdade artística e fazer uma alusão com o nosso mundo, onde a 'cultura do medo' se infiltra em cada canto do globo).
Quando pequeno, um dos personagens centrais, Arlen, ouviu falar de um povo que vivia no deserto escaldante e que lutava contra os demônios quando estes se erguiam na noite e os matavam com lanças guardadas\cobertas com runas, ao invés de esconderem-se com medo na segurança de suas casas revestidas de guardas (runas mágicas que impedem a passagem dos demônios). Ouvir essa história só serviu para fomentar cada vez mais a raiva que Arlen sentia dos demônios, a respeito dos quais ele cresceu sendo doutrinado a temer, algo natural, imutável. Mas as histórias fazem isso dentro das pessoas, destrancam portas há muito emperradas. Nos revelam muito ou pouco (mas sempre o suficiente) sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo, sobre a vida. Nos encoraja a seguir adiante.
— De modo geral —
Acho desnecessário dizer que O Homem Pintado foi uma das minhas melhores leituras do ano em fantasia e agora configura-se como um livro 'favoritado' no skoob. E, como me disseram, o segundo (que já li) é três vezes melhor. O autor vai aperfeiçoando a história e criando novas possibilidades que só enriquecem o seu universo e a trama.
E nesse tom inacabado, finalizo dizendo que está mais que recomendado!
Por Henrique Magalhães
— Leitores assassinos: nossa vontade insana de matar —
Pode parecer inocente, mas essa vontade incontrolável que muitos leitores experimentam em relação a determinados personagens que saem por aí lançando sal nas feridas alheias; estuprando, matando e destruindo vidas, não é nem um pouco inocente: é puramente assassina (e, não adianta negar, deliciosa). Acredito que isso se deve a sensação de estar fazendo o que é certo, matando aquele personagem e poupando outros de suas ações (é como dar uma de Jeová vingador e destruir os bebês de Sodoma, futuros "pecadores").
Brett constrói seus personagens com um norte e com um sul. Em outras palavras, humanos, sem maniqueísmo, bons e maus ao mesmo tempo, realistas, (ainda que falhe nesse aspecto em alguns momentos). O ódio ou a raiva que você dedica à um personagem, podem se converter nos sentimentos contrários. Sob um ponto de vista, aquele personagem pode parecer detestável e abjeto, sob outro, alguém a quem você dedicaria seu apoio se pudesse. Portanto, tire seu dragão da chuva caso esteja predisposto a sair apontando adagas aos pescoços dos 'vilões' de Brett, eles podem arrancar-lhes doces beijos no capítulo seguinte.
— Acima de tudo, um livro sobre o medo —
O autor, ao escrever sua história, tinha em mente escrever algo que retratasse a forma como o sentimento 'medo' é divisor de águas na vida do ser humano. Lidar com o medo, seja qual for a sua natureza, é o tema central da história O Home Pintado. O medo está presente o tempo inteiro em um mundo dominado por demônios (e podemos sim usar a liberdade artística e fazer uma alusão com o nosso mundo, onde a 'cultura do medo' se infiltra em cada canto do globo).
Quando pequeno, um dos personagens centrais, Arlen, ouviu falar de um povo que vivia no deserto escaldante e que lutava contra os demônios quando estes se erguiam na noite e os matavam com lanças guardadas\cobertas com runas, ao invés de esconderem-se com medo na segurança de suas casas revestidas de guardas (runas mágicas que impedem a passagem dos demônios). Ouvir essa história só serviu para fomentar cada vez mais a raiva que Arlen sentia dos demônios, a respeito dos quais ele cresceu sendo doutrinado a temer, algo natural, imutável. Mas as histórias fazem isso dentro das pessoas, destrancam portas há muito emperradas. Nos revelam muito ou pouco (mas sempre o suficiente) sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo, sobre a vida. Nos encoraja a seguir adiante.
— De modo geral —
Acho desnecessário dizer que O Homem Pintado foi uma das minhas melhores leituras do ano em fantasia e agora configura-se como um livro 'favoritado' no skoob. E, como me disseram, o segundo (que já li) é três vezes melhor. O autor vai aperfeiçoando a história e criando novas possibilidades que só enriquecem o seu universo e a trama.
E nesse tom inacabado, finalizo dizendo que está mais que recomendado!
Por Henrique Magalhães
Viva amigo Henrique,
ResponderExcluirMais um excelente comentário, já habitual, apenas tenho uma coisa a dizer ainda melhora nos livros seguintes então no 3 volume levamos um KO tipo George Martin, muito bom essa saga, um nome a tomar nota na fantasia :)
Abraço
O homem pintado então é o mesmo livro que o protegido?
ResponderExcluirExatamente ;-) Como li a versão de Portugal (cujo título é O Homem Pintado, mais apropriado, em minha opinião), acabei resenhando com base nela.
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