quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Análise: Épico, de Conor Kostick

Distopia, Fantasia, Ciber-Ficção, todas majestosamente equilibradas em Épico, um livro que me surpreendeu como um YA (Young Adult) não fazia há um bom tempo!

Tendo lido essa história fantástica, posso então confirmar a informação presente em uma das orelhas do livro, que por sinal, foi muito bem confeccionado e revisado:

"Conor Kostick agrada tanto a fãs de Fantasia quanto de Ficção Científica com essa aventura que une profundos dilemas morais, viagens por um incrível mundo virtual e batalhas de tirar o fôlego. Épico, seu primeiro livro de Ficção, ganhou o prêmio Booklist de melhor livro de fantasia para jovens de 2007 e recebeu a Menção Honrosa do International Board on Book for Young People em 2006".

Você conhece aquela sensação de que, por uma escolha impensada, algo poderia não ter sido como foi? A incômoda consciência de que quase perdemos algo realmente importante, por causa de uma decisão irrefletida ou pelo simples acaso? E que, quando enfim constatamos que essa possibilidade já foi anulada nos sentimos aliviados? É como me sinto com relação a Épico, aliviado por tê-lo encontrado em uma estante na livraria e o adquirido. Eu mal imaginava que estava de posse de uma obra única e que teria o papel fundamental que todo livro deveria desempenhar: nos lembrar do poder e prazer da leitura.

Por qual motivo você deveria parar tudo o que você está fazendo para ler Épico?


Além de uma escrita original, muito bem estruturada e repleta da magia necessária a todo livro de Fantasia, Conor possui, de longe, um dom para a escrita que se evidencia nesse seu primeiro romance destinado ao público juvenil. Ele consegue inserir temas adultos como política, formas de governo, justiça e violência no mundo da Fantasia com uma maestria notável, dosando cada conteúdo sem tornar seu enredo enfadonho ou descaradamente didático.

Um outro motivo para ler Épico é o fato de que a sua vida, depois dessa leitura, será consideravelmente mais cheia de significado e boas recordações, além de fazê-lo repensar sobre o seu papel na sociedade e mexer com sua concepção de violência.

Eu não pude deixar de tratar como um verdadeiro fenômeno o que o Conor fez com os temas com os quais ele trabalhou na construção dessa história que é, acima de tudo, uma história de Fantasia e de paixão pelo Futuro Possível.

RPG, política, migração planetária, justiça, amizade, realidade virtual, mitologia irlandesa, viagens marítimas, batalhas em arenas, Fantasia... entregue todos esses ingredientes ao Conor e se surpreenda com o que ele irá fazer.

Em épico os seres humanos vivem uma nova fase de sua existência. Séculos atrás a humanidade necessitou abandonar a Terra devido a destruição supostamente causadas pela onda de crimes e violência cometidos pelos homens. Na Nova Terra a sociedade é governada por uma elite que detém o poder de determinar as medidas pelas quais a sociedade deve ser guiada. Nas arenas de um mundo virtual, conhecido como Épico, são resolvidos, por meio de batalhas, os conflitos da sociedade. Todos jogam Épico, por meio do progresso no jogo os membros da sociedade podem adquirir o necessário para sua sobrevivência no mundo real, desde uma cirurgia médica à um trator de aragem para as fazendas, além de ser também o meio pelo qual se pode ingressar em uma universidade. Em suma, o seu desempenho em Épico decide o rumo da sua vida no mundo real.

Grande parte da população dedica seu tempo ao trabalho nas plantações, colheitas e em Épico, tentando obter lucro matando seres de toda espécie em troca de status. Ninguém questiona Épico e todos sabem que além de uma forma de sobrevivência financeira, ele é também o único lugar onde a violência pode ser praticada. Qualquer ato de violência na vida real é considerado um crime hediondo e o Exílio, uma ilha para condenados por crime de violência, é o destino dos infratores, sejam adolescentes , jovens ou velhos.

Épico é tão valorizado pelo sistema vigente que, apesar de residirem em um novo planeta e serem detentores de toda a sabedoria e conhecimentos a respeito dos avanços tecnológicos do homem enquanto no planeta Terra, a tecnologia da Nova Terra é bastante rústica, tendo como meio de transporte principal carroças guiadas por animais. Em contrapartida, Épico é a perfeição tecnológica, todas as medidas para o seu aprimoramento estão sempre sendo tomadas, bibliotecas inteiras estão cheias de livros a respeito do jogo, e até mesmo no campo acadêmico há uma área voltada apenas para o estudo de como progredir em Épico.

Apesar da lei contra a violência, a sociedade não está livre de injustiças e é então que somos apresentados a Erick, o protagonista dessa maravilhosa estória.

Érick é um garoto de 14 anos que vive em uma fazenda costeira com seus pais. Além de jogarem Épico, eles trabalham plantando e colhendo a serviço da Central de Distribuição, a elite contra a qual são lançados desafios pelo distritos, desafios estes que consistem em uma luta na arena onde o vencedor terá seu pedido atendido, caso vença. Esses pedidos geralmente incluem materiais para o trabalho nas fazendas, como painéis solares ou tratores de aragem. A questão que começa a ser posta em palavras é a realidade de que nenhum jogador comum pode vencer a C.D., que possui personagens com atributos poderosíssimos no jogo, o que, aos olhos de alguns, começa a soar como injusto. Mas quem se atreve a questionar a Central quando está tem em seu poder determinar o que deve ou não ser distribuído entre as pessoas?

Como se não fosse o suficiente, morrer na arena significa perder tudo o que, laboriosamente, foi conquistado até então, armas, moedas, atributos... o jogador deveria começar do zero e sofria consequências na vida real também, sendo então realocado para trabalhar em lugares bastante hostis e perigosos, como nas minas ou nas salinas, o que demandava muito tempo e energia, passando então a ter pouco tempo para evoluir em Épico.

Depois de ter sua vida destruída pela C.D., Erick decide completar uma das missões consideradas impossíveis no jogo: Matar Inry' aat o Dragão. É uma tarefa impossível, ainda mais para um jogador sem recursos como Erick, mas ele não tem muito a perder. Com a ajuda de seus amigos Erick põe em prática o seu plano e o desenrolar dos eventos transforma tudo.

Erick então decide enfrentar a C.D., e descobre algo sobre Épico que muda tudo em que ele acreditou durante toda a sua vida: ao que parece, o jogo tem consciência de que os personagens que entram em saem são indivíduos de outra realidade e que a sua existência talvez esteja em perigo. Agora Erick tem algo sério com o que se preocupar.

Após ser apresentado a uma visão diferente a respeito da utilidade da violência (para o bem) Erick, juntamente com seus amigos, precisam decidir lutar contra o sistema que os oprime com uma vida de servidão e labuta, ou deixar as coisas como estão. Suas decisões o levam a tomar conhecimentos de fatos que a C.D. tentara esconder e que muda toda  forma como o sistema de governo é encarado pela sociedade.

Por meio de Épico, um mundo onde a aventura é um fato inevitável, onde as possibilidades são infinitas, onde os mares são explorados e monstros derrotados, onde o perigo pode estar invisível e diante de seus olhos, Érick e seus amigos vão descobrir que fazem parte de uma geração que vai mudar o mundo em que vivem e que estão dispostos a sacrificar tudo para libertarem-se das correntes impostas pelo sistema de governo vigente.

Épico é um livro sobre como a Fantasia serve como alicerce para vivermos a realidade. Sobre a importância de lutar pela família, pelos amigos e pela liberdade. Sobre o poder do conhecimento e das escolhas que fazemos com o conhecimento que possuímos.

P.S.: Até onde me recordo, esse é o primeiro livro que leio de um autor irlandês!

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