J. D. Salinger é um daqueles
exemplos de pessoas que podem ser citadas quando se quer falar de alguém que
mudou o rumo das coisas em âmbito universal, que mudou as pessoas e continuará
a fazer isso ainda depois de sua morte, pois quando você consegue colocar uma
perspectiva completamente desconhecida e inovadora na mente de uma nação e
mudar o seu modo não só de ver mas de ser e agir, ocorre um fenômeno em cadeia
que ultrapassa anos e que perdura mesmo após a sua morte. Um evento com começo,
sem fim. Salinger foi uma daquelas pessoas raras que podem ser citadas como
pessoas que criaram uma geração. O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher
in the Rye), por sua vez, é o único de sua espécie, um feito sem igual, ímpar, um
daqueles raríssimos livros que se tornam matéria-prima da qual derivam outros
livros e que servem de inspiração para músicas, filmes e, por que não,
assassinatos.
A obra que começou a ser em
escrita entre 1945 - 1946 em forma de revista foi lançada como livro em capa
dura em 1951, tendo como público alvo o adulto e que acabou caindo nas graças do
público jovem devido aos temas presentes na obra que, de um modo geral, aborda
a perspectiva dos jovens modernos com relação ao mundo que os cerca e a
sociedade em que estão inseridos. O livro foi incluído na lista dos 100
melhores romances da língua inglesa escritas desde 1923 da Times em 2005, e foi
nomeado pela Modern Library e seus leitores como um dos 100 melhores livros da
língua inglesa do século 20.
Holden Caulfield é sinônimo de
insatisfeito, confuso, romântico, incompreendido, deprimido, curioso, rebelde,
reflexivo, indeciso e, como não poderia deixar de ser, inesquecível. Um
adolescente, 16 anos, filho de pais financeiramente estáveis, estudando em um
internato para garotos adolescentes e que já foi expulso de todas as escolas em
que esteve. Holden é um personagem que instiga, que perturba, que confunde e
que faz pensar em muitos aspectos da nossa vida individual e social, além do
nosso relacionamento com o mundo, com a vida.
Todo o romance ocorre em um pano
de fundo em que impera o que é trivial, o banal, o fútil. Toda essa atmosfera que
aparenta ser insignificante ou infrutífera é banhada pelo ponto de vista do
Holden, pela forma como ele vê as pessoas, suas formas de vida, seus
comportamentos, o modo como elas lhe dão com suas posses, as palavras que usam,
suas reações diante de situações corriqueiras e convencionais, a forma como
interagem com os outros, tudo isso é alvo da crítica sarcástica, que nem por
isso deixa de ser profunda, do Holden, que está sempre fazendo uma reflexão ligeira
a respeito das coisas, reflexão que as vezes se torna uma confusão de
pensamentos e ideias indefinidas mas que incomodam, que mexem com algo, que
ilumina algum aspecto da noção do modo como as coisas são e que acabam se
desdobrando diante do Holden como uma mistura de elementos irritantes, os quais
ele detesta, odeia, abomina. É como se houvesse sempre uma injustiça sendo praticada,
como se as pessoas estivessem a todo instante cometendo crimes hediondos dos
quais nem elas mesmas tem noção. A vida
das diversas classes de pessoas em Nova York e nas escolas em que Holden esteve
é um dos elementos mais intrigantes se considerarmos o modo como ele os vê e a
opinião que tem a respeito de aspectos da vida deles. Desse modo nos é dada a
oportunidade de conhecer muitos “eus sociais”, estar diante de personalidades,
hábitos e costumes de pessoas de todos os tipos, classe social, idade,
profissão e etc.
Holden não suporta mais estudar
em escolas abarrotadas por pessoas cujo comportamento o enojam, pessoas que
levam uma vida que ele considera cretina. Depois de se dirigir à casa de seu
professor de História (uma das matérias nas quais ele foi reprovado) e
constatar que este é mais um cretino que o cerca e ter uma briga com um de
seus colegas de quarto (cretinos), ele decide que não vai esperar até o dia das
férias de natal para sair do internato. No meio da noite, ele abandona o lugar
e decide passar alguns dias nos hotéis, bares, restaurantes e lugares de Nova
York, antes de ir para casa e encarar a reação de seus pais com relação a sua
expulsão de mais uma escola. É nesse cenário de Nova York nos anos 50 que somos
inseridos em diversas situações corriqueiras vividas por um jovem confuso,
incompreendido e que quer escapar à uma prisão que sua mente não consegue
compreender muito bem.
Tudo o que ele quer fazer é conectar-se
com alguém, qualquer um, mas o menino tem padrões elevados, muitíssimo
elevados. Holden é um misantropo solitário que deseja acabar com a sua solidão
e que encontra bastante dificuldade em lograr isso por causa de sua misantropia.
Ao sair do trem em Nova York, a
primeira coisa que Holden faz é dirigir-se á uma cabine telefônica onde
permanece por 20 minutos tentando decidir-se para quem ligar. Sempre que pensa
em alguém considera os possíveis desconfortos que a interação por telefone
poderá causar e por fim, acaba não entrando em contato com ninguém, mesmo
havendo pensado em um número razoável de pessoas. Holden teme ter que aturar
comportamentos que ele detesta nas pessoas e a falsidade que emana delas. E ele
tem muitas razões para isso.
No
fim, Holden está sempre tentando fazer amigos, mas tem sempre que encarar a
falsidade das pessoas ao seu redor.
Na mente de Holden, todos são uma
espécie de alpinista-social, obsecados pela aparência e impressão que passam
aos outros, idiotas, estúpidos. A todo instante ele está usando a palavra falso
(33 vezes) para definir alguém. Ele não quer crescer e conseguir um emprego e
jogar golfe e beber martinis e ir para um escritório, e ele certamente não quer
ter nada a ver com as coisas que os "bastardos" fazem. Holden se
considera superior, e até ri dos outros, como se eles não fossem capazes de
enxergar o que ele enxerga e isso soasse muito engraçado pois todos o veem como
um jovem que está se perdendo, quando eles é que estão perdidos.
Holden também teve que lidar com a morte de pessoas próximas. A morte de seu irmão, Allie, de quem ele gosta
muito, é uma realidade que ele aceitou porém não conseguiu superar. Quando sua
irmã o questiona a respeito do que ele realmente gosta, a única coisa que
praticamente lhe vem á mente é o Allie, ele consegue pensar no Allie, que já
está morte e contra argumenta com sua irmã a respeito da validade da resposta,
mesmo se tratando de alguém que está morto. Holden não consegue aceitar que uma
pessoa mil vezes melhor que as outras
tenha que ter partido e deixado o mundo tão vazio. Além disso, Holden
também encara uma não tão significativa, porém marcante, perda, que envolve um
de seus colegas de quarto, James Castle, que suicidou-se pulando da janela do
quarto.
Por vezes Holden demonstra ter
medo da morte, por outras nem tanto e ainda outras ele considera a
possibilidade do suicídio. Holden é um adolescente muito confuso a respeito de
muitas coisas. Inclusive sexo.
Holden considera o sexo como algo
degradante e por isso ele não pode satisfazer suas necessidades sexuais com
garotas com quem ele se importe, pois seria como transforma-la em um objeto.
Holden não consegue aceitar o sexo como algo bom, a ponto de nunca ter
conseguido levar adiante uma iniciativa com uma garota, ainda que soubesse ou
suspeitasse que ela o queria.
Holden entende as pessoas: como
eles pensam, como agem, e por que eles fazem o que fazem. E ele não gosta, não
quer ser igual a elas. Não quer ter que precisar de sexo, de perversão. Ele
quer ser inocente, como Allie, seu irmãozinho que morreu aos 11 anos. Holden
quer manter sua inocência e se ver livro de uma sociedade que está mergulhada
no sexo, na depravação, onde em todos os cantos estão escritas a palavra FODA-SE.
Há muitos personagens memoráveis
na obra escrita por Sallinger, ainda que esses personagens sejam citados em um
curto único parágrafo. O Apanhador no Campo de Centeio nos faz refletir sobre a
inocência perdida, o que pode ser visto como o abismo no campo de centeio onde
caem as crianças que ali brincam e jamais conseguem retornar.
Holden viveu um momento de queda,
onde clamou ao seu irmão Allie, eternamente morto e eternamente inocente, que
não deixasse desaparecer, que não o deixasse cair no abismo. Pessoalmente,
sinto-me triste por não ter havido um Apanhador no Campo de Centeio onde um dia
estive brincando.
Por Henrique Magalhães
Por Henrique Magalhães
''Holden também teve que lhe dar com a morte de pessoas próximas.'' Há um erro de ortografia nessa frase, analise
ResponderExcluirCorrigido, caro e atento leitor!
ExcluirObrigado! ;-)
"Holden quer manter sua inocência e se ver livro de uma sociedade". Há um erro de ortografia nessa frase, analise.
ResponderExcluirFelipe Scarta
Colégio Dom Bosco
Também fiz uma análise literária tentando desmistificar e interpretar a obra para que as pessoas possam compreende-la com mais profundidade. Link abaixo:
ResponderExcluirhttps://eguadolivro.wordpress.com/2017/09/21/analise-critica-e-literaria-de-o-apanhador-no-campo-de-centeio/
Gostaria de deixar aki uma indicação singular para quem deseja saber + sobre a vida de J. D. Salinger:
ResponderExcluirFoi lançado em julho de 2018, um filme do diretor Danny Strong (seu 1º filme nesta função) e denominado como “O Rebelde no campo de centeio – A vida de J. D. Salinger”. Mostra tudo sobre como foi sua vida [final da adolescência] antes de começar seu misterioso período de reclusão até o falecimento em 27 de janeiro de 2010.
Elenco: Nicholas Hoult, Zoey Deusch, Kevin Spacey, Hope Davis, etc.
Recomendo e disponham !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tchau …