A Leitura nos Torna Deuses

Quem Lê não Respeita as Leis da Física

A leitura é o mais civilizado dos requintes que podemos nutrir por algo, uma das paixões mais civilizadas.

Ler envolve processos cognitivos complexos. Se vocês dedicar um tempo para pesquisar a respeito da escrita, fazer uma análise ligeira sobre a história da leitura e do que ela é capaz, você será tentado a considera-la o engenho mais fascinante criado pelo ser humano, superior ao próprio ato da fala.

Nós vivemos em um universo repleto de elementos e eventos fascinantes e cheios de complexidades. Muitos desses elementos, apenas na atual era do avanço científico e tecnológico, puderam ser descobertos, analisados e compreendidos, como a existência dos assombrosos buracos negros, suas possíveis causas e implicações. Porém, nenhum desses elementos foi consequência da ação humana, eles existiam muito antes de nós. As letras, as palavras, os conceitos e os processos nos quais estes três são aplicados, possibilitando a escrita e a leitura, atribui aos seres humanos o caráter de deuses. Nós trouxemos à existência um elemento novo e inexistente em todo o universo sem fazer uso de matéria-prima alguma.

É incrível como 26 letras e um punhado de sinais deram origem a milhões de obras literárias e continua, em um processo vertiginoso, originando mais e mais livros, textos, palestras, ensaios, artigos científicos, notícias, diários... As letras e a leitura nos tornam oniscientes.

Cerca de 40.000 atrás, nós pintávamos figuras de touros e bisões em paredes de cavernas, uma comunicação visual. Em seguida passamos para a comunicação oral, que por um tempo tornou-se a única forma de preservar um conhecimento. Em seguida, recorremos à escrita. Ainda que esta tenha surgido da necessidade de contabilizar produtos, nós a exploramos a tal ponto que, hoje, a escrita é capaz de retratar fielmente qualquer expressão da fala e manter vivo por séculos e milênios as descobertas, os costumes, pensamentos, estilos de vida e eventos de uma geração.

A leitura, como todo processo cognitivo, é uma habilidade e, como toda habilidade, pode ser treinada e aperfeiçoada até o fim de nossas vidas. Mas, para que nos dedicar a essa habilidade? Ora, por muitos motivos, tantos que eu nem posso começar a listá-los, se eu o fizesse esse post se tornaria quilométrico! No entanto, em suma, posso dizer que aperfeiçoar a habilidade da leitura nos permite salvar a nossa própria vida de uma existência de vermes, de ignorância (eu tenho pavor a esse estado de desconhecimento!). A leitura é a única forma pela qual podemos nos tornar deuses; ela nos fornece bagagem para criar canções inesquecíveis, que fazem a mente e o coração tremerem; a leitura nos possibilita criar histórias que chocam e criam fenômenos dentro de nós, brincando com nossas emoções; a leitura nos permite ouvir os mortos e a escrita deu a eles, enquanto vivos, a oportunidade de falar conosco. Ao escrevermos, estamos garantindo que as gerações futuras ouvirão nossas palavras, ainda que não passemos de um punhado de pó e ossos secos. Ler nos permite ignorar as leis de tempo e do espaço e a física... que se f***!

Deuses, Semideuses e Humanos

Em termos simples: existem leituras fáceis e leituras difíceis, ponto.

Leituras fáceis não são melhores nem piores que leituras difíceis e o mesmo se aplica ao inverso. Estou sendo realmente honesto, ambas são necessárias, indispensáveis.

Leituras fáceis são aquelas que não exigem tanto do nosso raciocínio. São leituras que requerem muito pouco da nossa capacidade de interpretação, muito importante no processo de leitura. Quando estamos iniciando no mundo dos livros, essa facilidade é essencial e sem ela jamais conseguiríamos alcançar as leituras difíceis. Essas facilidade nos introduzem no mundo de leitores com seus sinais, significados, aplicações. Pra citar como exemplo temos os gibis, os livros infantis, ou os juvenis, que além de nos doutrinar no ramo da leitura e nos preparar para peixes maiores, nos agracia com a paixão pela leitura. Conforme vamos evoluindo e crescendo como pessoas, temos necessidade de compreender coisas novas, o funcionamento do que nos cerca, o que pode ou não nos fazer mal, a sensação de aperto no coração quando pensamos em alguém, nossa humanidade, entre outros.

A leitura, em especial de ficção, nos permite começar a entender muitos processos sociais e pessoais. A ficção faz referência a muitas áreas da vida e assim, somos impelidos a pesquisar, estudar, aprender, aplicar, ensinar e crescer. Começamos como semideuses, adquirindo força e fugindo à ignorância, reservada aos humanos, àqueles que, tendo a oportunidade, não leem e mal conseguem descrever suas próprias emoções (deprimente!).

Em algum momento, no entanto, precisamos subir ao pedestal dos deuses, e é aí que entra as leituras difíceis.

Leituras difíceis requerem atuação constante do raciocínio em sua performance total, portanto é preciso concentração, foco direcionado ao conteúdo da leitura e pausas para reflexão. Leituras difíceis vão precisar de todo nosso empenho interpretativo, precisamos desvendar metáforas, enigmas, linhas de pensamentos, fazer ligações entre um tema e outro e entre estes e mais outros e assim adiante. Trata-se de um processo dinâmico e que pode ser aperfeiçoado, ou seja, com o tempo e a prática, leituras difíceis não serão tão difíceis assim!

Algumas pessoas podem pensar que leituras difíceis e ficção são antagônicas e, elas não podem estar mais enganadas. Um grande exemplo de que a ficção é de suma importância são as obras de Shakespeare que são, por si só, grandiosas. A ficção nos permite abordar de modo interativo diversos temas sociais, científicos, familiares, entre outros. Nos permite compreender e enxergar elementos visíveis e invisíveis ao nosso redor, dentro de nós, das pessoas que nos cercam, na sociedade e no mundo, o motivo por trás dos eventos. Pessoas que leem ficção compreendem melhor seus próprios sentimentos e os sentimentos dos outros, são mais empáticas. Para quem lê ficção, causas e eventos se tornam um belo jogo de xadrez e o leitor vê cada jogada. De semideuses à deuses.

Bem, eu vou ficar por aqui. Gostaria de escrever mais, no entanto irei abordar outros aspectos inerentes à leitura em outras postagens. Se gostou do post, deixa um comentário com sua opinião ou experiência. Nem preciso dizer que para todo blogueiro o comentário de um leitor é mega importante e relevante.

Voilá!

Por Henrique Magalhães