quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Análise: Ratos e Homens [de John Steinbeck]



Uma história de tragédias, belezas e sonhos. Sobre como é possível viver em companhia de outros e sentir-se, ainda assim, mortalmente só.

Sobre a Obra

A história trágica de George, um homem inteligente, porém sem instrução e de Lennie, homem de grande estatura e força porém intelectualmente limitado, dois trabalhadores rurais na Califórnia durante a Grande Depressão,  que se deslocam de um lugar para outro em busca de novas oportunidades de emprego.

Ratos e Homens e Sua Aplicação na Vida Real

+ Palavras e Sonhos

George é um homem esperto e muito inteligente, em companhia de seu amigo com problemas mentais, ele vai em busca da oportunidade de uma vida melhor, em busca de terras que sejam suas, nas quais poderá cultivar e das quais poderá viver em companhia de seu amigo, por quem sente-se grandemente responsável, dada sua falta de esperteza. George está decidido a abrir mãos de seus desejos menos urgentes e sacrificar os prazeres da bebida e das mulheres para ver realizado seu sonho.
George e Lennie vivem no período da Grande Depressão, um período marcado pelo altíssimo índice de desemprego e pela pobreza extrema que afetaram não apenas os Estados Unidos, mas vários países do mundo. Sonhar com terras e posses era apenas um meio de encontrar forças para continuar lutando e logo os sonhadores passaram a serem taxados como loucos, pessoas que correm em busca do vento, cheias de terras na cabeça. Não é preciso vivenciar uma Grande Depressão para sentir na pele esse tipo de desdém, essa descrença por parte dos outros quanto a nossos propósitos e objetivos por alcançarem. A melhor forma de evitar as influências desse pessimismo é optar pelo otimismo, é contra-atacar com a certeza férrea, é recorrer ao bálsamo da esperança e das lembranças, é ver mais adiante. George, por meio de suas palavras e descrições de um lugar melhor, com terras e vacas, uma lareira para os dias de chuva, muita alfafa e um sofá para conversar, onde não haviam patrões, onde o que você plantava seria também o você colheria, onde os frutos do trabalho seriam desfrutados e não entregues aos superiores, pois não haveriam superiores.

Precisamos ser sonhadores e mais do que isso, precisamos ser pessoas que realizem seus sonhos sem destruir os sonhos de outros, mas fazendo deles motivos de alegria.

Como muitos trabalhadores, George vivia a angustia de colher o que não era seu, para satisfazer a fome que também não era sua, transportando sacas e mais sacas de grãos sem que deles pudesse se apossar, tudo isso para receber em troca um punhado de dólares, sempre incerto quanto ao dia de amanhã. E não é assim que vivem muitos? E não é sempre o mesmo contraste? Alguns tem poucos outros tem muito e somos tentados a encarar a situação como natural, um fato irrevogável.Para ser feliz é preciso ter posses e para ter posses é preciso se elevar sobre outros, é preciso arrancar dos outros a chance de ser feliz, eis a mensagem que nos traz o capitalismo e outros sistemas econômicos.

Não somos todos homens? Sim. Portanto temos os mesmos direitos. Não deveria haver pessoas se banhando na lama, enquanto outros vivem o conforto do chuveiro elétrico, não deve haver os que tem apenas pão e água, enquanto todo tipo de alimento é lançado fora por aqueles que possuem cem vezes mais do que precisam. A sensação é a que alguns homens nascem para viver como ratos e outros, como homens.

+ Sobre Ratos e Homens

Assim como ratos estão sujeitos à ação de forças que estão muito além de suas capacidades de evitá-las, nós também o estamos. Estamos sujeitos às casualidades e eventos do existir, sejamos ricos ou pobres, tenhamos uma gorda poupança bancária ou não, sempre podemos ser acometidos pelas fatais eventualidades da vida e nesse aspecto somos como ratos, o que nos difere é a ciência que temos a respeito disso. Sabemos que estamos exposto às imprevisões da existência, compreendemos isso e deveríamos ser influenciados  a nos ajudar uns aos outros por esse pensamento, pela certeza de que a dor pode ser experimentada por todos e que ela é algo extremamente terrível, isso deveria nos mover a proteger-nos e andarmos juntos, unidos, por um bem comum: a felicidade. Sem classes, sem hierarquias, apenas humanos. Cientes de que cada ser humano, homem ou mulher, idoso ou criança, são tão somente humanos, devemos usar esse conhecimento e jamais permitir tais diferenças, lutar para removê-las, primeiro eliminando-as da mente e depois, da realidade ao nosso redor. Podemos preferir agir como ratos, no entanto,alheios ao conhecimento da dor do próximo, vivendo como se nunca fizéssemos parte de uma mesma natureza, como se houvessem humanos feitos para o esgoto e outros para a riqueza e seus excessos.

Em ratos e homens, Lennie é um homem que deveria transmitir respeito e certo temor por sua enorme força e por seus membros grandemente angulosos, mas a sua mentalidade, que beira parece ter estagnado na fase da infância, fazendo-o sempre se comportar como tal, o torna alvo de chacota e desrespeito, por parte daquele que pertencem à sua classe, os trabalhadores da fazenda, quanto por seus superiores. Isso reflete nossa propensão a nos impor sobre aqueles que julgamos serem inferiores por não corresponderem com algum padrão pré-estabelecido, quando deveria despertar o senso de solidariedade. Quando somos escravizados, ao invés de compreender a dor de nossos semelhantes, somos tentados a agir como agem aqueles que nos prendem às correntes.

Uma leitura bastante produtiva, sem dúvida me fez garantir futuras leituras do autor.

Por Henrique Magalhães

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