sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Análise: Poliana [de Eleanor H. Porter]



Poliana (no original Pollyanna) é o 8º livro do meu projeto, é uma parábola romanceada (e tanto quanto hiperbólica) de como podemos encarar a vida sobre uma perspectiva mais otimista.


Sobre a Obra



Poliana é uma criança que aos onze anos tornou-se órfã, e que duas semanas após a morte de seus pai, um pastor missionário, vai morar com uma tia materna que é dona de uma grande fortuna e de um caráter severo. Tão logo é recebida na cidade, Poliana revelar possuir uma auto-estima elevada ao nível máximo, o que a permite encontrar sempre, em qualquer situação, motivos para não desanimar ou entregar-se à tristeza. Essa atitude se deve ao "jogo do contente" que seu pai lhe ensinou e que, não muito tempo depois de sua chegada, toda a cidade começa a jogar.

Poliana e Sua Aplicação na Vida Real

+ Síndrome de Pollyanna

Poliana é, sem dúvida, uma personagem bastante otimista e, em mesmo grau, ingênua. Essa mistura de otimismo e ingenuidade não parece chocar muito os leitores, talvez por encararem esses aspectos como próprios a uma criança. Todos tem certo grau de ingenuidade, mas chega um ponto em que o excesso dessa qualidade deve ser levado a sério. Sendo uma parábola, Poliana parece uma obra inteiramente dedicada a imergir seus leitores em um universo bastante rotineiro e com realidades com as quais muitos leitores se identificarão, e por essa razão, as ações dos personagens dentro desse cenário parece ganhar uma força mais intimista,  o que abre passagem para um sermão romanceado que visa transmitir ao amigo leitor uma ideologia que podemos denominar Síndrome de Poliana, um mecanismo da mente para fugir de uma realidade dura demais ou de uma série de experiências que envolvem perdas, tragédias e etc.

Poliana é uma criança que vivencia diversas experiências traumatizantes: viveu uma vida de pobreza com seus pais, recebendo alimentos e vestes por meio de donativos, todos os seus irmãos morreram, e precisa lidar com a perda da mãe e do pai, este último morreu quando a menina tinha ainda 11 anos. Sozinha, Poliana ficou algum tempo sob os cuidados de pessoas que dedicam-se a acolher crianças órfãs. É de se esperar que Poliana seja a antítese do otimismo, do contente, do feliz, mas não é. Motivada pelo seu pai, que a ensinou a importância de ver em todas as situações ruins da vida um motivo para agradecer e ser feliz, ela está sempre se empenhando em encontrar nas mais adversas situações um motivo para sorrir.


Ser otimista "ajuda" Poliana a evitar, para citar como exemplo, a depressão. Acreditar que seus pais estão no céu ou que anjos cuidam das pessoas ou que todas as situações ruins tem algo proveitoso, não a permite ter muito tempo para lamentar-se ou ficar triste e, por esse motivo, as punições que lhe são aplicadas pela sua tia, com quem passa a viver, acabam por tornarem-se motivos de alegria, punições estas que lhe são aplicadas pelo fato de sua tia interpretar sua atitude de eterno contentamento como sendo uma atitude de impertinência.


A atitude de Poliana pode parecer admirável, mas não é.

Encarar a vida com otimismo é essencial e inteligente, mas ignorar a realidade criando motivos para sorrir é uma forma de auto-engano, um mecanismo da mente que nos torna alheios às situações ruins e nos mantém em um estado doentio de aparente felicidade, quando poderíamos encarar a realidade tal qual ela se apresenta. É preciso encarar circunstâncias ruins como ruins e então mudá-las. Quando alguém age de forma errada, é preciso esclarecê-la a respeito de sua atitude errada e não tentar encontrar o lado bom de sua atitude, o qual certamente poderemos fantasiar a vontade.

Ao chegar à casa de sua tia, Poliana é dirigida ao sótão, onde será seu quarto, um lugar mal ventilado, acessível às moscas, com muito pouca ventilação. Poliana sente medo, pois o sótão parece escuro, mal iluminado, silencioso e distante dos outros cômodos da casa, mas ao invés de questionar e contestar, já que a casa dispõe de outros quartos, ela tenta encontra motivos para não entristecer-se e viver feliz na clausura do quarto. Uma atitude nada recomendável, já que terá como consequência o desconforto do calor e da má iluminação, sem falar nas moscas. Isso serve para ilustrar a importância de ver as coisas tais quais elas se apresentam a nós, o que nos permite analisá-las e mudá-las. É certo que há situações que tendem a nos deixar abatidos, mas um pouco de bom senso nos mostrará que o abatimento só irá nos prejudicar.

Poliana é uma parábola em forma de romance que tenta nos lembrar do quão importante é lutar para continuar vivendo de maneira otimista, ainda que diante de situações nas quais nos sentimos profundamente tristes, emocionalmente abalados e somos tentados a viver uma vida de solidão ou esperando sempre o pior das coisas. Seus personagens, como nós, vivem situações que tentam os forçar a ceder à tristeza, a não lutar para atingir o melhor, a encarar a vida como uma sucessão imprevisível e interminável de catástrofes,mas que aprendem a superar todos esses incômodos. Poliana também nos lembrar que temos a obrigação de lutar não apenas pela nossa própria felicidade, mas pela dos que estão ao nosso redor, de que a nossa felicidade não precisa surgir como fruto do passar por cima dos outros.

Ainda que apresentada de maneira um tanto quanto contraproducente, Poliana é uma história muito bonita que conseguiu me emocionar e a lição transmitida é facilmente apreendida. Muito recomendo.

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