domingo, 19 de janeiro de 2014

Análise: O Planeta dos Dragões [de Jack Vance]


O Planeta dos Dragões (no original The Dragons Masters - Os Mestres dos Dragões) , vencedor do prêmio Hugo á uma fantasia científica escrita em 1962.

Sobre a Obra

No planeta Aerlith, os homens procuram reconstituir a civilização perdida. No passado, com suas astronaves e uma ciência avançada, a raça humana conquistara e colonizara toda a galáxia. Agora só restam pequenos núcleos isolados, entregues à própria sorte. E o que é pior: destruindo-se mutuamente em guerras inúteis, frutos da inveja, ambição e poder.

Além dos homens e dragões, vivem em Aerlich os Sacerdotes, uma raça misteriosa de homens que andam nus e só falam quando interrogados. Praticam uma espécie de misticismo Zen, embora seu raciocínio obedeça a uma lógica implacável. E não são tão inocentes e pacatos como parecem. Joaz Banbeck sonha vencer os Básicos e retomar a gloriosa jornada do homem pelo Universo.

O Planeta dos Dragões e Sua Aplicação na Vida Real

+ Abandonando o planeta

Aerlith é um planeta de rochas e deserto que orbita uma estrela brilhante distante conhecida como Skene, que se aparece como "um ponto de actínica" durante o dia. O céu é descrito como sendo preto em vez de azul. A rotação do planeta é lenta, levando vários dias. A noite tem um efeito sobre os "dragões", tornando-os mais cruéis e incontroláveis. Isso significa que todo o movimento dos exércitos deve ocorrer durante o dia.

Oxigênio, um ciclo de rotação favorável às nossas necessidades, abundância de recursos naturais renováveis e não renováveis, um imenso ecossistema, climas variados, multidões de espécies terrestres, aquáticas e voadoras, alimentos de todos os tipos, leis físicas propícias a existência e manutenção da vida humana. Um imenso globo capaz de sustentar bilhões de seres humanos e infinitas espécies animais e vegetais. E nós, seres humanos, somos a única espécie capaz de compreender e apreender toda essa imensidão de coisas, estudá-las, entendê-las, usá-las a nosso favor.

Vivemos em um momento em que todo o universo já não parece um mistério, conhecemos as miríades de processos pelos quais o mundo e o universo funcionam. O mundo invisível de células, átomos e subátomos já não é invisível para nós. Descobrimos maneiras de viver em sociedade, de cultivar, criar, de aprender e utilizar o que aprendemos e descobrimos. Mas, vivemos também num momento em que a Terra já não se mostra tão favorável assim. Desastres naturais causados pela intervenção humana tem dizimado todos os tipos de vida e impossibilitado o planeta de seguir em seus ciclos de forma saudável, e inclusive florestas estão sendo destruídas, espécies são exploradas, fontes renováveis e não renováveis consomem-se de maneira desequilibrada, alterando as características do planeta que propicia a vida, como a qualidade do ar e a eficiência da camada de ozônio.

Essas e outras demandas levaram o planeta a uma corrida em direção ao caos e, diferente da obra de Vance, é muito provável que não tenhamos tempo suficiente para abandonar o planeta e encontrar outro para parasitarmos.

Esse é um dos imensos dragões que precisamos vencer: a destruição do nosso planeta.

+ A questão da tecnologia

Os seres humanos vivem em vales onde o solo é bom. Ocasionalmente eles fazem guerra uns com os outros. Sua tecnologia é limitada ao aço e a pólvora. Eles também usam pedras semi-preciosas para a decoração.

Precisamos de mais vales onde o solo seja bom, precisamos cultivá-los e abrir mão do que nos impede de alcançar esse estado de paz e saúde ambiental novamente.

Nossa sociedade está completamente imersa nos avanços tecnológicos. Abandonamos a pedra lascada e aderimos a apetrechos muito mais avançados e nem vou começar a listar os itens que evidenciam que entre a tecnologia primitiva e a moderna, existe universos imensos de diferença.

Também não é novidade que com os avanços tecnológicos, o mundo passou e continua passando por mudanças drásticas, seja no mar, na terra ou no ar. Nada parece conseguir escapar ao toque mortal do ser humano.

A questão da tecnologia tem a ver com o quanto algumas dessas exercem poder destrutivo sobre o globo e seus habitantes: os incontáveis automóveis e o aumento da criação de gado com suas emissões de gases poluentes, os diversos elementos prejudiciais liberados pelo uso de eletrodomésticos, bombas atômicas e toda sorte de radioativos criados pelo homem que vem poluindo mares, regiões da terra e tornando ares irrespiráveis.

A divisão do mundo em nações, as guerras travadas desde muito tempo e ainda hoje pelas mesmas tem uma grande parcela de responsabilidade quanto a destruição de ambientes e da própria espécie humana. Essas guerras dão margem a corrida tecnológica envolvendo todo tipo de armas destrutivas que além de destruírem o ambiente, dizimam vidas e preenche outras com dor e sofrimento.

Esse é um outro dragão que precisamos combater: a destruição de ambientes e espécies pela demanda tecnológica.

+ O medo estúpido das nações

De tempos em tempos, muitas vezes depois de muitos anos, uma nave espacial aparece e rapta muitos humanos. Os vales são bombardeados, garantindo que a humanidade não vai subir acima do seu atual nível tecnológico.

Em O Planeta dos Dragões, temos os Básicos, seres que detém grande avanço tecnológico, em comparação com os homens, que usam como armas apenas metal, pedra e pólvora. Os Básicos agem de modo a demonstrar o desejo que alimentas de que os homens não avancem tecnologicamente e por isso estão sempre destruindo seus vales, pois assim estarão ocupados na reconstrução dos mesmos ao invés de dedicarem-se à novas descobertas no ramo da tecnologia.

Em parte, as nações estão em busca de equilíbrio de potências e quanto mais potente uma nação, mais submissas estarão as outras, e essa tensão, esse medo de que o poder de determinada nação não seja superior, motiva as pesquisas em prol das armas, que envolve exploração de recursos  e uma série de atitudes que a longo ou curto prazo, prejudicarão o planeta. Ao invés de lutarem para manter a nossa casa estável, estamos roendo a madeira da nossa morada e deixando o pó e os detritos espalhados.

Obviamente existe muito mais por trás de tudo isso, mas uma análise cuidadosa mostrará que esse medo estúpido das nações é causado por uma estupidez ainda maior.

+ Alta Tecnologia e Baixa Qualidade de Vida

No planeta Aerlith, os homens procuram reconstituir a civilização perdida. No passado, com suas astronaves e uma ciência avançada, a raça humana conquistara e colonizara toda a galáxia. Agora só restam pequenos núcleos isolados, entregues à própria sorte.

Mesmo tendo conquistado toda a galáxia no passado, os avanços tecnológicos e científicos não impediram os homens de ter que procurar outro planeta para habitar. Não encontraram um planeta nem de longe comparável com o planeta terra, os dias e as noites são mais longas, os recursos escassos e os perigos vem em grande número, seja do céu ou da terra.

Até que ponto vale a pena sacrificar o planeta em prol do avanço tecnológico? No fim, teremos alta tecnologia e baixa qualidade de vida. Por nossos interesses e nossas atitudes egoístas, estamos assassinando as presentes e as futuras gerações. Estamos todos manchados de sangue.

+ Guerras

Além dos homens e dragões, vivem em Aerlich os Sacerdotes, uma raça misteriosa de homens que andam nus e só falam quando interrogados. Praticam uma espécie de misticismo Zen, embora seu raciocínio obedeça a uma lógica implacável.

Os Sacerdotes são religiosos que acreditam pertencerem a uma classe superior de homens e aguardam o dia em que todos os homens serão destruídos pelos Básicos para então saírem de seus abrigos subterrâneos e, por meio de alguma tecnologia que os permita abandonar o planeta, irão restabelecer o domínio de paz dos homens no Universo. Ao fim das contas, com seu estilo de vida pacato, desprendido, sem ódio, ambições egoístas, os Sacerdotes pretendem estabelecer uma civilização que preze por um planeta e um universo de igualdade e harmônico e por esse motivo não interferem nas ações dos homens, que guerreiam entre si e parece procurar estupidamente a sobrevivência por meio da auto-destruição.

Guerras, precisamos vencer esse dragão em nossas casas, no trabalho, na vida em sociedade, nas nações, a guerra precisa ser vencida.

+ Dominar e matar dragões

Joaz Banbeck, líder de um dos vales, sonha vencer os Básicos e retomar a gloriosa jornada do homem pelo Universo, ainda que diante do ceticismo férreo que impera.

Joaz é um líder do Vale Banbeck e faz o que está ao seu alcance parar manter a paz entre os vales e a segurança do seu povo. Ele sonha em vencer seus inimigos e partir em busca de outros humanos, que possivelmente estão vivendo em algum lugar do universo.

Acredito que houve um tempo em que os homens tinham um único prepósito: manter a espécie humana viva, livre de perigos, e esse desejo ainda vive em nós, por isso julgamos os crimes na sociedade, encontramos a cura para o sofrimento, estabelecemos meios para a sobrevivência coletiva, criamos tecnologias que melhorem a qualidade de vida e solucionem problemas. Tal qual Joaz Banbeck, um guerreiro que monta dragões, também podemos lutar para que nossos inimigos sejam destruídos, para que projetos sejam criados e melhorias sejam alcançadas, para reverter o estado das coisas.

Apenas desejemos e nos esforcemos para não nos transformarmos naquilo que devemos perseguir: os dragões em nossas vidas.

Por Henrique Magalhães

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