terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Jamais Lance Seu Livro ao Mar







O Globo se move constantemente e nós nos movemos sobre ele. Um mundo vivo no interior de um Universo em Infinita expansão.

No mundo e fora dele ainda existem coisas intocadas, que não foram vistas, apalpadas ou saboreadas. Existências que não foram alcançadas pela mão humana. Árvores proibidas que não foram acessadas, escondidas no centro de algum belo jardim, mais perto do que cogitamos. Mas, em um mundo onde quase tudo já foi movido e removido de seu lugar, onde pedras já não estão sobre pedras, mas espalhadas de forma irreversível e violenta, há sempre o perigo de que alguém se aproxime, escute uma doce e sibilante voz a chamar, fazendo-o chegar cada vez mais e mais perto e então, depois do toque, vem a catástrofe.

Eis a maldição dos homens: destuir a tudo o que tocam, desejar a tudo o que seus olhos alcançam. Destruição é o dom dos homens.

Causamos a dor e a miséria, e poderíamos criar um novo mundo com as lágrimas que já fizemos cair. Nem mesmo o sol, em toda a sua grandeza ardente, deixa de cumprir o seu papel na sinfonia eterna do universo. Os homens, porém, queimam o que é verde e escurecem a luz do dia com sua névoa negra.

Onde há fumaça, há fogo. Por causa dos homens a Terra arde em chamas, queima em um estado perigoso de ebulição. Nós somos os demônios e é ao mundo que atormentamos. Demônios feitos de carne, ossos, e ódio. Demônios perigosos, capazes de pensar e maquinar, construir para destruir, elevar para derrubar, tudo apenas para o bel-prazer. Nos multiplicamos sobre a terra como pestes. Como pragas que assolam ininterruptamente. Pragas que agem de dia, pragas que agem à noite. Nós somos o inferno do mundo e ele parece arder em fogo e tormento eternos.


Somos também os anjos. Somos as potestades que iluminam a escuridão. Somos os alados que erguem o que tombou, que curam o que foi ferido, que refrigeram o mundo em chamas. Somos a espada incandescente que protege e circunda os jardins dessa terra em caos. Somos aquilo que decidimos ser.

Nós escolhemos usar o anel, ou lançá-lo às chamas. Decidimos se ficamos com o ódio, e todas as suas consequências ou se lutamos contra ele, para destruí-lo até o fim.



Não é o bruxo que escolhe a sua varinha, mas a varinha que escolhe o seu bruxo, e você é quem decide o que fará com o poder que tem nas mãos. É você que determina o que fará com seus dragões.


Alguns escolhem o poder apenas pelo poder. Muitos passarão por cima de seus próprios amigos para obtê-lo. No fim, o pó sempre clama pelo pó e nosso corpo se desfaz. Mas, nós escolhemos pelo que vamos morrer e, enquanto vivemos, vivamos todos a aventura de viver mais de uma vida. Respire com um pouco mais de vontade, pois o ar está repleto do pó das fadas. Mantenha os olhos sempre abertos, um elfo sempre pode nos visitar.



E, por fim, jamais siga os exemplos dos quais fomos alertados por Shakespeare: Jamais enterre a sua varinha fundo no chão e, jamais, em hipótese alguma, ainda que diante da morte, jamais lance seu livro ao mar.

Por Henrique Magalhães

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